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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Homilia do Papa Bento XVI, na festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo

Mas, de que modo Pedro é a rocha? Como deve realizar esta prerrogativa, que naturalmente não recebeu para si mesmo? A narração do evangelista Mateus começa por nos dizer que o reconhecimento da identidade de Jesus proferido por Simão, em nome dos Doze, não provém «da carne e do sangue», isto é, das suas capacidades humanas, mas de uma revelação especial de Deus Pai. Caso diverso se verifica logo a seguir, quando Jesus prediz a sua paixão, morte e ressurreição; então Simão Pedro reage precisamente com o impeto «da carne e do sangue»: «Começou a repreender o Senhor, dizendo: (…) Isso nunca Te há-de acontecer!» (16, 22). Jesus, por sua vez, replicou-lhe: «Vai-te daqui, Satanás! Tu és para Mim uma ocasião de escândalo…» (16, 23). O discípulo que, por dom de Deus, pode tornar-se uma rocha firme, surge aqui como ele é na sua fraqueza humana: uma pedra na estrada, uma pedra onde se pode tropeçar (em grego, skandalon). Por aqui, se vê claramente a tensão que existe entre o dom que provém do Senhor e as capacidades humanas; e aparece de alguma forma antecipado, nesta cena de Jesus com Simão Pedro, o drama da história do próprio Papado, caracterizada precisamente pela presença conjunta destes dois elementos: graças à luz e força que provêm do Alto, o Papado constitui o fundamento da Igreja peregrina no tempo, mas, ao longo dos séculos assoma também a fraqueza dos homens, que só a abertura à acção de Deus pode transformar.
E no Evangelho de hoje sobressai, forte e clara, a promessa de Jesus: «as portas do inferno», isto é, as forças do mal, «non praevalebunt», não conseguirão levar a melhor. Vem à mente a narração da vocação do profeta Jeremias, a quem o Senhor diz ao confiar-lhe a missão: «Eis que hoje te estabeleço como cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra. Far-te-ão guerra, mas não hão-de vencer - non praevalebunt -, porque Eu estou contigo para te salvar» (Jr 1, 18-19). Na realidade, a promessa que Jesus faz a Pedro é ainda maior do que as promessas feitas aos profetas antigos: de facto, estes encontravam-se ameaçados por inimigos somente humanos, enquanto Pedro terá de ser defendido das «portas do inferno», do poder destrutivo do mal. Jeremias recebe uma promessa que diz respeito à sua pessoa e ministério profético, enquanto Pedro recebe garantias relativamente ao futuro da Igreja, da nova comunidade fundada por Jesus Cristo e que se prolonga para além da existência pessoal do próprio Pedro, ou seja, por todos os tempos.
Detenhamo-nos agora no símbolo das chaves, de que nos fala o Evangelho. Ecoa nele o oráculo do profeta Isaías a Eliaquim, de quem se diz: «Porei sobre os seus ombros a chave do palácio de David; o que ele abrir, ninguém fechará; o que ele fechar, ninguém abrirá» (Is 22, 22). A chave representa a autoridade sobre a casa de David. Entretanto, no Evangelho, há outra palavra de Jesus, mas dirigida aos escribas e fariseus, censurando-os por terem fechado aos homens o Reino dos Céus (cf. Mt 23, 13). Também este dito nos ajuda a compreender a promessa feita a Pedro: como fiel administrador da mensagem de Cristo, compete-lhe abrir a porta do Reino dos Céus e decidir se alguém será aí acolhido ou rejeitado (cf. Ap 3, 7). As duas imagens – a das chaves e a de ligar e desligar – possuem significado semelhante e reforçam-se mutuamente. A expressão «ligar e desligar» pertencia à linguagem rabínica, aplicando-se tanto no contexto das decisões doutrinais como no do poder disciplinar, ou seja, a faculdade de infligir ou levantar a excomunhão. O paralelismo «na terra (…) nos Céus» assegura que as decisões de Pedro, no exercício desta sua função eclesial, têm valor também diante de Deus.
No capítulo 18 do Evangelho de Mateus, consagrado à vida da comunidade eclesial, encontramos outro dito de Jesus dirigido aos discípulos: «Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu» (Mt 18, 18). E na narração da aparição de Cristo ressuscitado aos Apóstolos na tarde da Páscoa, São João refere esta palavra do Senhor: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos» (Jo 20, 22-23). À luz destes paralelismos, é claro que a autoridade de «desligar e ligar» consiste no poder de perdoar os pecados. E esta graça, que despoja da sua energia as forças do caos e do mal, está no coração do mistério e do ministério da Igreja. A Igreja não é uma comunidade de seres perfeitos, mas de pecadores que se devem reconhecer necessitados do amor de Deus, necessitados de ser purificados através da Cruz de Jesus Cristo. Os ditos de Jesus sobre a autoridade de Pedro e dos Apóstolos deixam transparecer precisamente que o poder de Deus é o amor: o amor que irradia a sua luz a partir do Calvário. Assim podemos compreender também por que motivo, na narração evangélica, à confissão de fé de Pedro se segue imediatamente o primeiro anúncio da paixão: na verdade, foi com a sua própria morte que Jesus venceu as forças do inferno; com o seu sangue, Ele derramou sobre o mundo uma torrente imensa de misericórdia, que irriga, com as suas águas salutares, a humanidade inteira.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Di Noia, o homem para salvar as relações Roma-FSSPX? “É possível ter divergências teológicas e permanecer em comunhão com a Sé de Pedro”.

Dom Di Noia na Igreja Santíssima Trindade dos Peregrinos, em Roma.
Dom Di Noia na Igreja Santíssima Trindade dos Peregrinos, em Roma.
Dom Di Noia declarou ao Catholic News Service, em 26 de junho, que o Vaticano precisava ajudar as pessoas que têm fortes objeções ao Concílio a verem “que essas divergências não têm de nos dividir ou nos afastar da mesma mesa da Comunhão”.
“É possível ter divergências teológicas e permanecer em comunhão com a Sé de Pedro”, disse.
“Parte do que estamos dizendo é que, quando você le os documentos (do Vaticano II), não pode lê-los do ponto de vista de alguns bispos liberais que possam ter sido participantes (do concílio), você ter que lê-los em sentido literal”, afirmou Dom Di Noia à CNS. “Dado que o Espírito Santo está guiando a Igreja, os documentos não podem estar em descontinuidade com a tradição”.
[...] O Cardeal americano William J. Levada permanece como presidente da comissão e Mons. Guido Pozzo continua como secretário.
A nomeação do arcebispo [Di Noia] é significativa, pois dedica perícia e mão-de-obra às questões ainda em consideração pela Fraternidade São Pio X.
O Padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse aos jornalistas que a nova posição é um sinal da “importância e delicada natureza do tipo de dificuldades” com que a comissão está lidando e não deve ser vista como um indício de como as coisas estão caminhando com a Fraternidade.
O Arcebispo Di Noia declarou que sua tarefa será ajudar a resolver o impasse sobre os termos de um acordo.
“O diálogo teológico ocorreu por três anos, mas agora (o Papa) espera encontrar a linguagem ou a modalidade para uma reconciliação”, contou Dom Di Noia à CNS. “Estamos no estágio de sutilezas, para ajudá-los a encontrar uma fórmula que respeite sua própria integridade teológica”.
“Parece para todos que (uma reconciliação) está próxima, mas agora ela precisa de uma espécie de empurrão”, afirmou.
Quando Dom Di Noia era sub-secretário da congregação doutrinal, esteve envolvido com o estabelecimento pelo Papa, em 2009, de ordinariatos pessoais, estruturas especiais para antigos anglicanos que querem estar em plena comunhão com a Igreja Católica, enquanto preservam aspectos de sua herança litúrgica e espiritual anglicana.
“É possível que (o Papa Bento XVI) tenha esta experiência em vista” ao selecioná-lo para sua última função, disse o Arcebispo.

Nomeações na Cúria. Di Noia vice-presidente da Ecclesia Dei. Renúncia de bispo argentino escandaloso.

Dom Joseph Augustine Di Noia, novo vice-presidente da Comissão Ecclesia Dei.


Dom Joseph Augustine Di Noia, novo vice-presidente da Comissão Ecclesia Dei.
Fonte: Fratres in Unum.com
A Santa Sé divulgou hoje diversas nomeações realizadas pelo Santo Padre para cargos de segundo escalão, mas não irrelevantes, na Cúria Romana:
Dom Jean-Louis Bruguès, O.P., então Secretário da Congregação para a Educação Católica, foi nomeado Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana. Sua linha de pensamento pode ser conhecida no discurso que proferiu aos seminários pontifícios, em junho de 2009, em que abordava “dois modelos de Igreja” e as dificuldades do período pós-conciliar.
Dom Vincenzo Paglia, então bispo de Terni-Narni-Amelia e ligado à Comunidade de Santo Egídio, foi nomeado Presidente do Pontifício Conselho para a Família, no lugar do aposentado Cardeal Ennio Antonelli.
A mudança mais importante fica por conta da transferência de Dom Joseph Augustine Di Noia da Secretaria do Culto Divino para a vice-presidência da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei. Como número dois do Culto Divino, assume Dom Arthur Roche, até agora bispo de Leeds.
Dom Arthur Roche era um dos destinatários da crítica contundente feita pelo Cardeal Ranjith, então Secretário para o Culto Divino, aos bispos que agem como “instrumentos do demônio” ao fomentar a rebelião contra o Motu Proprio Summorum Pontificum. Em 2007, Roche afirmava que “os poderes dos bispos para barrar a Missa Tridentina permanecem em vigor”.
Particularmente no âmbito da liturgia, esta mudança se apresenta como uma vitória do partido montiniano na Cúria Romana.
Como publicávamos em março de 2011, o Cardeal Cañizares, Prefeito para o Culto Divino, “desejaria, em certa medida, reestabelecer a ordem na liturgia. Punindo os desvios de esquerda, mas limitando também o máximo possível as concessões aos tradis. Seu aliado neste combate seria o prelado maltês da Secretaria de Estado, Mons. Charles Scicluna. O mesmo Scicluna que goza de toda a confiança de Bento XVI por sua recusa a qualquer concessão no dossiê ultra-explosivo dos costumes do fundador dos Legionários de Cristo, Padre Maciel. Scicluna se tornaria o novo secretário da Congregação para o Culto Divino [o que não ocorreu], substituindo o arcebispo americano Joseph Augustine Di Noia…”.
Após o anúncio da nomeação de Di Noia, a Congregação para a Doutrina da Fé, à qual a Comissão Ecclesia Dei está subordinada, lançou um comunicado em que afirma:  “A nomeação de um prelado de alto-nível para esta posição é um sinal da solicitude pastoral do Santo Padre para com os católicos tradicionalistas em comunhão com a Santa Sé e seu forte desejo de uma reconciliação com aquelas comunidades tradicionalistas ainda não em união com a Sé de Pedro. [...] Como respeitado teólogo dominicano, Dom Di Noia dedicou muita atenção a essas questões doutrinais, assim como à prioridade da hermenêutica da continuidade e reforma na correta interpretação do Concílio Vaticano II — uma área criticamente importante no diálogo entre a Santa Sé e a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. [...] A experiência e a contínua associação de Dom Di Noia com a Congregação para o Culto Divino facilitará o desenvolvimento de certas provisões litúrgicas desejadas na celebração do Missale Romanum de 1962. Ademais, o amplo respeito que Dom Di Noia goza das comunidades judaicas ajudará a tratar de algumas questões que surgiram na área das relações católico-judaicas enquanto tem progredido a jornada em direção à reconciliação das comunidades tradicionalistas”.
“Solicitude pastoral” não sentida em 2011, da parte de Di Noia, por alguns “tradicionalistas em comunhão com a Santa Sé”.
Restaria ainda questionar a verdadeira sanha da Cúria Romana em tratar de “certas provisões litúrgicas desejadas” para a Missa Tradicional [novos prefácios, lecionário, etc]. Desejadas por quem? Fora meia-dúzia de gatos pingados excêntricos, ninguém no mundo tradicional deseja “provisão” alguma.
Dom Protase Rugambwa, até então bispo de Kigoma, foi designado para o cargo de Secretário-adjunto da Congregação para a Evangelização dos Povos e Presidente das Pontifícias Obras Missionárias.
Por fim, Monsenhor Krzysztof Józef Nykiel foi nomeado regente da Penitenciária Apostólica e o escandaloso bispo argentino  Fernando Bargalló teve sua renúncia aceita a jato, menos de uma semana após apresentá-la.
É esperada para as próximas semanas o anúncio do novo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em substituição ao Cardeal Levada, que já ultrapassou a idade limite. O nome mais cotado é o do alemão Gerhard Ludwig Müller, bispo de Regensburgo. Fala-se ainda na substituição de Bertone para outubro.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Cardeal Koch sobre os 500 anos da Revolução Protestante: “Não podemos comemorar um pecado”.

O responsável pelo ecumenismo no Vaticano “chutou o balde”. Em 2017, comemora-se os 500 anos da Reforma Protestante. Comemora-se? Segundo o Cardeal Kurt Koch (foto), Prefeito do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, “não podemos comemorar um pecado”. 
Em um ambiente embebido no politicamente correto das últimas décadas, surpreende ouvir um Cardeal — ainda mais o responsável pelo ecumenismo — falando assim, sem papas na língua. Ele sabe disso, e reconhece o risco de ser considerado “anti-ecumênico”. Mas vai adiante: “Os acontecimentos que dividem a Igreja não podem ser considerados como um dia de festa”.
Koch afirmou ainda que desejava assistir, em memória do acontecimento, a uma reunião das confissões reformadas seguindo o exemplo dado por João Paulo II, em 2000, isto é, pedindo desculpas e reconhecendo seus erros, condenando, ao mesmo tempo, as divisões na Cristandade.
A resposta não tardou. A comissionada do Conselho da Igreja Evangélica da Alemanha para o Jubileu de 2017 não quis diálogo nenhum. Esbravejou: “A Reforma Protestante não é nosso pecado, mas uma reforma da Igreja urgente e necessária do ponto de vista bíblico, na qual defendemos a liberdade evangélica; não temos que nos confessar culpáveis de nada”.
Bem, as palavras da filha de Lutero demonstram o que qualquer Católico já sabe. No “caminho ecumênico” só há uma culpada, a Santa Igreja Católica, e só a Ela são feitas exigências.

A Prelazia São Pio X: o que Dom Fellay assinou.

Apesar do segredo muito bem mantido sobre as negociações entre Roma e a FSSPX e, seja como for, as reviravoltas casuais clássicas “de última hora” em tais casos e que consomem (que são destinadas a consumir?) os nervos, conhecemos agora o essencial da declaração doutrinal assinada em 15 de abril de 2012, que deve constituir a base do reconhecimento canônico da obra de Dom Lefebvre, sob a forma de uma Prelazia Pessoal.
De fato, em sua conferência de terça-feira, 5 de junho de 2012, na escola Saint-Joseph-des-Carmes, o Padre Pflüger, Primeiro-Assistente do Superior-Geral da Fraternidade São Pio X, deu, em substância, os principais elementos desta declaração que, não é mais segredo para ninguém, a Comissão Ecclesia Dei, de imediato, considerou totalmente satisfatória. Os termos suaves de Dom Fellay procuravam ser recebidos por seus interlocutores, enquanto mantendo a linha firme de Dom Marcel Lefebvre. Uma retomada muito inteligente, em suma, da fórmula da adesão de 1988.
No essencial, segundo o testemunho do Primeiro-Assistente, Dom Fellay, sobre os pontos que geram dificuldades no Concílio e na nova liturgia, declarou e assinou que:
“O critério e o guia para a compreensão dos ensinamentos do Concílio Vaticano II deve ser a Tradição da Fé Católica integral, que por sua vez esclarece certos aspectos da vida e doutrina da Igreja ainda não formulados, mas implicitamente presentes nela. As afirmações do Concílio Vaticano II e do Magistério Pontifício posterior relativas à relação entre as Igreja Católica e as confissões cristãs não-católicas devem ser entendidas à luz de toda a Tradição”.
Satisfazendo, assim, tanto a Comissão Ecclesia Dei como aqueles que tinham receios dentro da FSSPX.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sagrado Coração, santificai os sacerdotes!

Vitral Sagrado Coração
Ó meu Jesus, Vos peço por toda a Igreja,
concedei-lhe o amor e a luz do Vosso Espírito,
dai vigor às palavras dos sacerdotes,
de tal modo que os corações endurecidos
se enterneçam e retornem a Vós, Senhor.
Ó, Senhor, dai-nos santos sacerdotes;
Vós mesmo, conservai-lhes na santidade.
Ó Divino e Sumo Sacerdote,
que a potência da vossa misericórdia
lhes acompanhe em todos os lugares
e lhes defenda das insídias e dos laços do diabo,
pois ele tenta continuamente as almas dos sacerdotes.
Ó Senhor, que a potência da Vossa misericórdia
quebre e aniquile tudo aquilo
que possa obscurecer a santidade dos sacerdotes,
porque Vós podeis todas as coisas.
Meu Jesus amantíssimo,
Vos peço pelo trinfo da Vossa Igreja,
para que abençoes o Santo Padre e todo o clero;
para obter a graça da conversão
dos pecadores obstinados no pecado;
por uma especial bênção e luz,
Vos peço, Jesus, pelos sacerdotes
com os quais me confessarei durante toda a minha vida.
(Santa Faustina Kowalska)
* * *
EXAME DE CONSCIÊNCIA PARA OS SACERDOTES
1. « Santifico-me por eles para que também eles sejam santificados pela verdade » (Jo. 17,19) Proponho-me seriamente à santidade em meu ministério? Estou convencido de que a fecundidade do meu ministério sacerdotal vem de Deus e que, com a graça do Espírito Santo, devo identificar-me com Cristo e dar a minha vida pela salvação do mundo?
2. « Isto é o meu Corpo » (Mt. 26,26) O Santo Sacrifício da Missa é o centro da minha vida interior? Preparo-me bem, celebro devotamente e, depois, me recolho em ação de graças? A Missa constitui o ponto de referência habitual em minha jornada para louvar a Deus, agradecê-lo pelos seus benefícios, recorrer à sua benevolência e reparar pelos meus pecados e pelos de todos os homens?
3. « O zelo pela tua casa me devora » (Jo. 2,17) Celebro a Missa segundo os ritos e as normas estabelecidas, com autêntica motivação, com os livros litúrgicos aprovados? Estou atento às sagradas espécies conservadas no Sacrário, renovando-as periodicamente? Conservo os vasos sagrados com atenção? Uso dignamente todas as vestes sagradas previstas pela Igreja, tendo presente que atuo in persona Christi Capitis?
4. « Permanecei em meu amor » (Jo. 15,9) Causa-me alegria permanecer diante de Jesus Cristo presente no Santíssimo Sacramento, em minha meditação e silenciosa adoração? Sou fiel à visita diária ao Santíssimo Sacramento? O meu tesouro é o Sacrário?
5. « Explica-nos a parábola » (Mt. 13,36) Faço diariamente a minha meditação, com atenção e procurando superar qualquer tipo de distração que me separe de Deus, buscando a luz do Senhor, a quem sirvo? Medito assiduamente a Sagrada Escritura? Recito atentamente as minhas orações habituais?
6. É necessário « orar sempre, sem desfalecer » (Lc. 18,1) Celebro quotidianamente a Liturgia das Horas integralmente, dignamente, atentamente e devotamente? Sou fiel ao meu compromisso com Cristo nesta dimensão importante do meu ministério, orando em nome de
toda a Igreja?
7. « Vem e segue-me » (Mt. 19,21) Nosso Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro amor da minha vida? Observo com alegria meu compromisso de amor a Deus na continência celibatária? Detive-me conscientemente em pensamentos, desejos ou atos impuros; tive conversas inconvenientes? Coloquei-me em ocasião próxima de pecado contra a castidade? Procuro guardar a vista? Fui imprudente ao tratar as diversas categorias de pessoas? A minha vida representa, para os fiéis, um testemunho do fato de que a pureza é possível, fecunda e alegre?
8. « Quem tu és? » (Jo. 1,20) Encontro elementos de fraqueza, preguiça e fragilidade em minha conduta habitual? As minhas conversas estão de acordo com o sentido humano e sobrenatural que um sacerdote deve ter? Estou atento para que não se introduzam em minha vida elementos superficiais ou frívolos? Sou coerente, em todas as minhas ações, com a minha condição de sacerdote?
9. « O Filho do homem não há onde repousar a cabeça » (Mt. 8,20) Amo a pobreza cristã? Coloco meu coração em Deus e sou desapegado interiormente de todo o resto? Estou disposto a renunciar, para melhor servir a Deus, às minhas comodidades atuais, aos meus projetos pessoais, aos meus afetos legítimos? Possuo coisas supérfluas, fiz gastos desnecessários ou me deixo levar pela ânsia do comodismo? Faço o possível para viver os momentos de repouso e de férias na presença de Deus, recordando que sou sacerdote sempre e em todo lugar, também nestes momentos?
10. « Escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revel aste aos pequenos » (Mt. 11,25) Existem em minha vida pecados de soberba: dificuldades interiores, suscetibilidade, irritação, resistência a perdoar, tendência ao desencorajamento, etc.? Peço a Deus a virtude da humildade?
11. « Imediatamente, saiu sangue e água » (Jo. 19, 34) Tenho a convicção de que, ao agir « na pessoa de Cristo », sou diretamente envolvido no próprio Corpo de Cristo, a Igreja? Posso dizer sinceramente que amo a Igreja e que sirvo com alegria ao seu crescimento, as suas causas, cada um de seus membros e toda a humanidade?
12. « Tu és Pedro » (Mt. 16,18) Nihil sine episcopo – nada sem o bispo – dizia Santo Inácio de Antioquia: estas palavras são a base do meu ministério sacerdotal? Recebi docilmente as indicações, conselhos ou correções do meu Ordinário? Rezo especialmente pelo Santo Padre, em plena união com os seus ensinamentos e intenções?
13. « Amai-vos uns aos outros » (Jo. 13,34) Tenho vivido com diligência a caridade ao tratar com os meus irmãos sacerdotes ou, ao contrário, desinteresso-me deles por egoísmo, apatia ou frieza? Tenho criticado os meus irmãos no sacerdócio? Tenho estado junto daqueles que sofrem pela enfermidade física ou pelas dores morais? Vivo a fraternidade afim de que ninguém esteja só? Trato todos os meus irmãos sacerdotes e também aos fiéis leigos com a mesma caridade e paciência de Cristo?
14. « Eu sou o caminho, a verdade e a vida » (Jo. 14,6) Conheço profundamente os ensinamentos da Igreja? Os assimilo e transmito fielmente? Sou consciente de que ensinar o que não corresponde ao Magistério, solene ou ordinário, é um grave abuso, que causa dano às almas?
15. « Vai e não tornes a pecar » (Jo. 8,11) O anúncio da Palavra de Deus leva os fiéis aos sacramentos. Confesso -me com regularidade e com
freqüência, de acordo com o meu estado e com as coisas santas que trato? Celebro generosamente o sacramento da reconciliação? Sou amplamente disponível à direção espiritual dos fiéis, dedicando a isto um tempo específico? Preparo com desvelo a minha pregação e a minha catequese? Prego com zelo e com amor de Deus?
16. « Chamou os que ele quis. E foram a ele » (Mc. 3,13) Estou atento a descobrir os sinais das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada? Preocupo -me em difundir entre todos os fiéis uma maior consciência da chamada universal à santidade? Peço aos fiéis para que rezem pelas vocações e pela santificação do clero?
17. « O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir » (Mt. 20,28) Tenho procurado doar-me aos outros na vida de cada dia, servindo evangelicamente? Manifesto a caridade do Senhor através de minhas obras? Na Cruz, vejo a presença de Jesus Cristo e o triunfo do amor? Dou ao meu dia-a-dia a marca do espírito de serviço? Considero o exercício da autoridade ligada ao ofício uma forma imprescindível de serviço?
18. « Tenho sede » (Jo. 19,28) Tenho efetivamente rezado e me sacrificado com generosidade pelas almas que Deus me confiou? Cumpro os meus deveres pastorais? Tenho solicitude pelas almas dos fiéis defuntos?
19. « Eis o teu filho. Eis a tua mãe » (Jo. 19,26-27) Acudo cheio de esperança à Santíssima Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes, para amar e fazer com que amem mais ao seu Filho Jesus? Cultivo a piedade mariana? Reservo um espaço a cada dia para o Santo Rosário? Recorro à sua materna intercessão na luta contra o demônio, a concupiscência e o mundanismo?
20. « Pai, em vossas mãos entrego o meu espírito » (Lc. 23,44) Sou solícito em assistir e administrar os sacramentos aos moribundos? Considero a doutrina da Igreja sobre os Novíssimos em minha meditação pessoal, na catequese e na pregação ordinária? Peço a graça da perseverança final e convido os fiéis a fazerem o mesmo? Sufrago freqüente e devotamente as almas dos fiéis defuntos?
Oração e exame de consciência propostos pelo Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero, para a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus de 2012, dia dedicado também à oração pela santificação do clero.

Comunicado da Casa Geral da Fraternidade São Pio X.

Por DICI | Tradução: Fratres in Unum.com
Na quarta-feira, 13 de junho de 2012, Dom Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, acompanhado do Primeiro-Assistente Geral, Padre Niklaus Pfluger, foi recebido pelo Cardeal William Levada, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que lhe entregou a avaliação de seu dicastério sobre a Declaração doutrinal apresentada pela Fraternidade em 15 de abril de 2012, em resposta ao Preâmbulo doutrinal entregue em 14 de setembro de 2011 pela Congregação [para a Doutrina] da Fé.
Durante este encontro, Dom Fellay escutou as explicações e precisões do Cardeal Levada, ao que apresentou a situação da Fraternidade São Pio X e expôs as dificuldades doutrinais que apresentam o Concílio Vaticano II e o Novus Ordo Missae. O desejo de esclarecimentos suplementares poderia derivar em uma nova fase de discussões.
Ao final desta longa reunião de mais de duas horas, Dom Fellay recebeu um esboço de documento propondo uma Prelazia Pessoal, no caso de um eventual reconhecimento canônico da Fraternidade São Pio X. Durante o encontro não se discutiu a situação dos outros três bispos da Fraternidade.
Após esta reunião, expressou-se o desejo de que se continue o diálogo que permitirá chegar a uma solução para o bem da Igreja e das almas.
Menzingen, 14 de junho de 2012.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Decisão de Bento XVI a ser comunicada a Dom Fellay nas próximas horas.

Por I.Media | Tradução: Fratres in Unum.com - O superior da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), Dom Bernard Fellay, foi convocado ao Vaticano para encontrar, na tarde de hoje, 13 de junho de 2012, os responsáveis pela Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), foi informada a I.Media. Neste encontro, o Prefeito da Congregação, Cardeal William Levada, irá comunicar ao responsável pela FSSPX as conclusões de Bento XVI ao final das discussões destinadas a reinserir a Fraternidade na plena comunhão com Roma.
Bento XVI, que realizou diversos gestos em favor desta reconciliação, recebeu em meados de maio, das mãos do Cardeal Levada, as conclusões dos Cardeais e Bispos membros de seu dicastério acerca da reconciliação com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. À época, os membros da CDF pediram “novos aprofundamentos” da FSSPX sobre certas questões doutrinais, e a Congregação deveria, então, prosseguir suas discussões com Dom Fellay.
Neste ínterim, Bento XVI tomou uma decisão, tendo provavelmente em conta as propostas da CDF. A escolha do Papa muito seguramente foi comunicada em 9 de junho ao Cardeal William Levada e a Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer, prefeito e Secretário da CDF, recebidos em audiência pelo Papa.

Faleceu Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, um exemplo ao episcopado brasileiro

Comunicamos, com grande consternação, que Dom Luiz Gonzaga Bergonzini faleceu nesta madrugada, no Hospital Stella Maris, em Guarulhos.  As informações sobre os funerais:

13.06 - HOJE  a partir das 12:00h. - Missas de Corpo presente, de 2 em 2 horas,  na Catedral Nossa Senhora Imaculada Conceição

14.06 - AMANHÃ - a partir das 10:00h. - Missas de Corpo Presente de 2 em 2 horas, na Catedral Nossa Senhora Imaculada Conceição


14.06 - às 16:00h. - Sepultamento na própria Catedral Nossa Senhora Imaculada Conceição

Endereço:  Praça Tereza Cristina. n. 01, Centro, Guarulhos

Guarulhos, 13 de junho de 2012.
Assessoria de Dom Luiz Gonzaga Bergonzini

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Alma Cruzada


Ah ! eu quisera de minha alma fazer uma espada,
inebriada de heroísmo, sedenta de bravura,
e que só nos combates encontrasse ventura.
Ah ! eu quisera forjar em mim uma alma cruzada,
por Deus pronta para a luta, pronta para a estocada,
uma alma pontiaguda e forte, brilhante e pura.
Ah ! eu quisera de minha alma fazer um a espada,
que cantasse dos combates a épica formosura,
e só aspirasse a glória de ser desembainhada,
que, tendo da cruz a santa forma e a amarga doçura,
fosse escândalo para alguns, e, para outros, loucura.
Branca, virginal, valente e reta , cortante e ousada,
Ah ! eu quisera de minha alma fazer uma espada.

SANTA MARIA, MÃE E RAINHA DA PROEZA

Ah ! eu quisera de tua alma fazer uma espada,
forjada no fogo da epopéia e na chama da proeza,
alma toda católica e sedenta de grandeza,
como a espada só brilhando se despojada.
Só. Tendo a glória de ser como Deus crucificada,
escondendo humilde na bainha o fulgor da pureza.
Ah ! eu quisera de tua alma fazer uma espada,
agressiva, justticeira, altiva e cheia de nobreza.
Obediente e heróica, pela glória de Deus enlevada.
E sem mácula, e sem medo, sem felonia e sem fraqueza,
alma-espada, símbolo sacral de honra e fortaleza,
Como eu, fiel, virginal, intrépida e imaculada,
Ah ! eu quisera de tua alma fazer uma espada !
São Paulo, 8 / I / 1973 Orlando Fedeli

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entrevista de Dom Bernard Fellay sobre o estado atual das relações entre Fraternidade São Pio X e Roma.

Por DICI | Tradução: Fratres in Unum.com
DICI: O senhor está preocupado com a demora na resposta de Roma, que poderia permitir àqueles que são contrários a um reconhecimento canônico afastar sacerdotes e fiéis da Fraternidade São Pio X?
Dom Fellay: Tudo está nas mãos de Deus. Confio em Deus e em sua Divina Providência, que sabe conduzir tudo, inclusive as demoras, para o bem dos que O amam.
DICI: A decisão do Papa foi postergada como disseram algumas revistas? A Santa Sé o fez saber algo sobre um atraso?
Dom Fellay: Não, não tive conhecimento de qualquer programação. Inclusive há alguns que dizem que o Papa avaliará esta questão em Castel Gandolfo, em julho.
Uma solução canônica antes de uma solução doutrinal?
DICI: A maioria dos que se opõe à aceitação por parte da Fraternidade de um eventual reconhecimento canônico ressalta que os debates doutirnais só poderiam conduzir a esta aceitação [canônica] se tivessem terminado com uma solução doutrinal, isto é, uma “conversão” de Roma. A sua posição sobre este ponto mudou?
Dom Fellay: Devemos reconhecer que estas reuniões foram uma oportunidade para expôr os diversos problemas com que nos deparamos diante do Concílio Vaticano II. O que mudou é que Roma já não faz de uma plena aceitação do Concílio uma condição para a solução canônica. Hoje em dia, em Roma, alguns consideram que uma compreensão diferente do Concílio não é determinante para o futuro da Igreja, pois a Igreja não é só o Concílio. De fato, a Igreja não se limita ao Concílio, ela é muito maior. Portanto, é necessário se dedicar a resolver problemas maiores. Esta tomada de consciência pode nos ajudar a enteneder o que realmente está acontecendo: somos chamados a ajudar a levar aos demais o tesouro da Tradição que pudemos conservar.
Assim, pois, é a atitude da Igreja oficial que mudou, e não nós. Não fomos nós quem pedimos um acordo, é o Papa que quer nos reconhecer. Podemos, então, nos perguntar o porque desta mudança. Ainda não estamos de acordo doutrinariamente e, no entanto, o Papa quer nos reconhecer! Por que? A resposta é: há problemas tremendamente importantes na Igreja de hoje. Devemos fazer frente a estes problemas. Devemos deixar de lado problemas secundários e fazer frente a problemas maiores. Esta é a resposta de um ou outro prelado romano, mas jamais o dirão abertamente; é necessário ler nas entrelinhas para entender.
As autoridades oficiais não querem reconhecer os erros do Concílio. Elas nunca o dirão de maneira explícita. Contudo, se lemos nas entrelinhas, podemos ver que querem remediar alguns destes erros. Eis um exemplo interessante sobre o sacerdócio. Vocês sabem que desde o Concílio tem havido uma nova concepção do sacerdócio, que demoliu a imagem do sacerdote. Hoje vemos claramente que as autoridades romanas procuram restaurar a verdadeira concepção do sacerdote. Já havíamos observado isso claramente durante o Ano Sacerdotal, que ocorreu em 2010-2011. Agora a festa do Sagrado Coração é o dia dedicado à santificação dos sacerdotes. Nesta ocasião, uma carta foi publicada e um exame de consciência foi composto para os sacerdotes. Alguém poderia pensar que foram buscar este exame de consciência em Écône, visto que está claramente em consonância com a espiritualidade pré-conciliar. Esta revisão oferece a imagem tradicional do sacerdote, e até de seu papel na Igreja. É este o papel que Dom Lefebvre afirma quando descreve a missão da Fraternidade: restaurar a Igreja através da restauração do sacerdote.
A carta diz: “A Igreja e o mundo não podem ser santificados senão pela santidade do sacerdote”. Realmente, o sacerdote é colocado no centro. O exame de consciência começa com esta pergunta: “A santicação é a principal preocupação do sacerdote?”. Segunda pergunta: “O Santo Sacrifício da Missa — que é a palavra que usam, não a Eucaristia, a Synaxis ou qualquer outra coisa — é o centro da vida do sacerdote?”. Então são recordadas as finalidades da Missa: o louvor a Deus, a oração, a reparação dos pecados… dizem tudo. O sacerdote deve se imolar — a a palavra “imolar-se” não é usada, mas “dar-se”, sacrificar-se para salvar as almas. Tudo está dito. Depois vem a evocação dos novíssimos: “Pensa o sacerdote frequentemente nos seus novíssimos? Pensa em pedir a graça da perseverança final? Recorda isso aos fiéis? Visita os moribundos para lhes dar a extrema-unção?”. Vê-se como, habilmente, este documento romano recorda claramente a idéia tradicional do sacerdote.
Certamente, isso não elimina os problemas, e ainda há graves dificuldades na Igreja: o ecumenismo, Assis, a liberdade religiosa… mas o contexto está mudando; e não só o contexto, mas a própria situação… Eu distinguiria entre as relações exteriores e a situação interna. As relações com o mundo exterior ainda não mudaram, mas o que acontece na Igreja, as autoridades romanas estão procurando mudar pouco a pouco. Obviamente, ainda segue existindo um desastre maior, devemos ser conscientes, e não dizemos o contrário, mas também é necessário ver o que se está fazendo. Este exame de consciência para os sacerdotes é um exemplo significativo.
Qual atitude diante das questões doutrinais?
DICI: O senhor reconhece que sérias dificuldades permanecem sobre o ecumenismo, a liberdade religiosa… Havendo um reconhecimento canônico, qual seria sua atitude diante destes problemas? Não se sentiria obrigado a manter uma certa discrição?
Dom Fellay: Permita-me responder a sua pergunta com três perguntas: As novidades que se introduziram durante o Concílio foram o começo de um maior desenvolvimento da Igreja, de vocações e da prática religiosa? Não constatamos, muito pelo contrário, uma forma de “apostasia silenciosa” em todos os países cristãos? Podemos nos calar diante destes problemas?
Se queremos fazer frutificar o tesouro da Tradição para o bem das almas, devemos falar e atuar. Necessitamos dessa dupla liberdade de expressão e de ação. Mas eu desconfiaria de uma denúncia puramente verbal dos erros doutrinais; denúncia bem mais polêmica dado que é somente verbal.
Com o realismo que lhe era peculiar, Dom Lefebvre reconhecia que as autoridades romanas e diocesanas seriam mais sensíveis aos números e aos fatos apresentados pela Fraternidade São Pio X do que aos argumentos teológicos. É por isso que não temo afirmar que se ocorresse um reconhecimento, as dificuldades doutrinais seriam sempre ressaltadas por nós, mas com a ajuda de uma lição dada pelos próprios fatos, sinais tangíveis da vitalidade da Tradição. E por isso, como eu já dizia em 2006 sobre as etapas de nosso diálogo com Roma, devemos ter “fé na Missa Tradicional, esta Missa que exige a integridade da doutrina e dos sacramentos, promessa de toda fecundidade espiritual das almas”.
DICI: 2012 não é 1988, ano de sua sagração episcopal. Em 2009 foram levantadas as excomunhões, em 2007 se reconheceu oficial que a Missa Tridentina “nunca havia sido abrogada”, mas agora alguns membros da Fraternidade deploram que a igreja ainda não se tenha convertido. O rechaço a priori por parte deles de um reconhecimento canônico se deve a 40 anos de uma situação excepcional que resulta em uma má interpretação da submissão à autoridade?
Dom Fellay: O que está acontecendo nestes dias mostra claramente alguns de nossos pontos fracos diante dos perigos que foram criados pela situação em que estamos. Um dos principais perigos é inventar uma noção da Igreja que parece ideal, mas que não se situa de fato na verdadeira história da Igreja. Alguns argumentam que para trabalhar “com segurança” na Igreja, em primeiro lugar, ela deve limpar-se de todo erro. Ora, os santos reformadores não a abandonaram para lutar contra estes erros. Nosso Senhor nos ensinou que sempre haverá cizânia, até o fim dos tempos. Não só a erva boa, não só o trigo.
Nos tempos dos arianos, os bispos trabalharam em meio aos erros para convecer da verdade os que estavam equivocados. Não disseram que queriam estar fora, como alguns dizem hoje. Sem dúvida, sempre há que ter cuidado com as expressões “fora”, “dentro”, porque somos da Igreja, somos católicos. Mas, por este motivo podemos nos negar a convencer aqueles que estão na Igreja, sob o pretexto de que estão cheio de erros? Vejamos o que fizeram os santos! Se Deus nos permite estar em uma situação nova, em um combate corpo a corpo a serviço da verdade… Esta é a realidade que nos apresenta a história da Igreja. O Evangelho compara o cristão ao fermento, e queremos que a missa cresça sem estar dentro da massa?
Nesta situação, apresentada por alguns como uma situação impossível, nos é pedido trabalhar como fizeram todos os santos reformadores de todos os tempos. Certamente, isso não elimina o perigo. Porém, se temos a liberdade suficiente de atuar, de viver e de crescer, é necessário fazê-lo. Realmente, creio que isso deva ser feito, sempre e quando tenhamos a proteção suficiente.
DICI: O senhor crê que há membros da Fraternidade que, conscientemente ou não, abraçam teorias sedevacantistas? Tem medo de sua influência?
Dom Fellay: Certamente alguns podem estar influenciados por essas idéias, isso não é novo. Eu não creio que sejam tão numerosos, mas podem causar dano, sobretudo mediante a difusão de falsos rumores. Mas realmente creio que a principal preocupação entre nós é antes a questão da confiança nas autoridades romanas, temendo que o que possa acontecer seja uma cilada. Pessoalmente, estou convencido de que este não é o caso.
Entre nós há desconfiança de Roma, porque sofremos muitas decepções, por isso cremos que possa se tratar de uma cilada. É certo que nossos inimigos podem pensar em utilizar esta oferta como uma cilada, mas o Papa, que realmente quer este reconhecimento canônico, não o oferece como uma cilada.
Ver o que a proposta romana permitirá de direito e de fato.
DICI: Várias vezes o senhor repetiu que o Papa quer pessoalmente o reconhecimento canônico da Fraternidade. O senhor uma confirmação pessoal e recente do mesmo Papa de que é realmente sua vontade?
Dom Fellay: Sim, é o Papa quem quer, e eu o disse várias vezes. Tenho detalhes suficientes em meu poder para afirmar que o que digo é certo, embora não tenha tido nenhum trato direto com o Papa, mas com os seus mais próximos colaboradores.
DICI: Sobre a carta de 7 de abril, assinada pelos outros três bispos da Fraternidade, infelizmente publicada na internet: a análise que ela apresenta corresponde à situação da Igreja?
Dom Fellay: Sobre a posição deles, não excluo a possibilidade de uma evolução. A primeira questão para nós, que fomos sagrados por Dom Lefebvre, foi a da sobrevivência da Tradição. Creio que sim, meus confrades vêem e compreendem que em direito e em fatos há na proposta romana uma verdadeira oportunidade para a Fraternidade de “restaurar todas as coisas em Cristo”, apesar de todos os problemas que permanecem na Igreja hoje, então eles poderão reajustar seu juízo — isto é, com o estatuto canônico em mãos e os fatos diante de seus olhos. Si, eu creio, espero. E devemos rezar por esta intenção.
DICI: Alguns em todo o mundo, incluindo membros da Fraternidade, utilizaram passagens de uma entrevista que o senhor deu à Catholic News Service; estas passagens sugeram que a seus olhos Dignitatis Humanae já não apresenta dificuldades. A maneira como esta entrevista foi feita alterou o significato do que o senhor quis expressar? Qual é a sua posição sobre esta questão em comparação com o que Dom Lefebvre ensinava?
Dom Fellay: Minha posição é a da Fraternidade e Dom Lefebvre. Como de costume, em um assunto muito delicado, é necessário fazer distinções; e algunas destas  distinções desapareceram da entrevista de televis    ão que foi reduzida a menos de 6 minutos. Mas o relato escrtio que CNS fez de meus comentários reestabelece o que disse e que não foi conservado na versão difundida: “Apesar de Dom Fellay se negar a assumir a interpretação (da liberdade religiosa) por Bento XVI como em continuidade com a Tradição da Igreja — uma posição que muitos na Igreja tem discutido duramente –, Dom Fellay falou da idéia em termos surpreendentemente simpáticos”. Na realidade, eu somente recordei que já existe uma solução tradicional ao problema da liberdade religiosa e que se chama tolerância. Sobre o Concílio, quando me fizeram a pergunta: “O Vaticano II pertence à Tradição”, respondi: “Quisera esperar que assim fosse” (que em uma tradução defeituosa ao francês se transformou em “Espero que sim”). Isso está na linha das distinções feitas por Dom Lefebvre de ler o Concílio à luz da Tradição: o que está de acordo com a Tradição, aceitamos; o que é duvidoso, entendemos como a Tradição sempre ensinou; o que é contrário, rechaçamos.
As relações da Fraternidade São Pio X com os bispos diocesanos.
DICI: Uma prelazia pessoal é a estrutura canônica que o senhor indicou em declarações recentes. Pois bem, no Código [de Direito Canônico], o cânon 297 requer não somente informar mas também obter a autorização dos bispos diocesanos para fundar uma obra em seu território. Se bem que é claro que qualquer reconhecimento canônico preservará nosso apostolado em seu estado atual, o senhor está disposto a aceitar que as obras futuras não sejam possívels senão com a permissão do bispo nas dioceses onde a Fraternidade São Pio X atualmente não está presente?
Dom Fellay: Há muita confusão sobre este tema, e é causada principalmente por uma má interpretação da natureza de uma prelazia pessoal, assim como por um desconhecimento da relação normal entre o Ordinário local e a Prelazia. Acrescente-se a isso o fato de que a única referência disponível atualmente sobre uma prelazia pessoal seja o Opus Dei. No entanto, sejamos claros, se uma prelazia pessoal nos fosse dada, nossa situação não seria a mesma. Para entender melhor o que aconteceria, creio que nossa situação seria muito mais similar a de um Ordinariato Militar, porque teríamos uma jurisdição ordinária sobre os fiéis. Seríamos como uma espécie de diocese cuja jurisdição se estende a todos os seus fiéis, independentemente de sua situação territorial.
Todas as capelas, igrejas, priorados, escolas e obras da Fraternidade e das Congregações religiosas amigas seriam reconhecidas com uma verdadeira autonomia para exercer o seu ministério.
Continua sendo certo — como é o direito da Igreja — que para abrir uma nova capela ou fundar uma nova obra, seria necessário contar com a permissão do Ordinário local. Seguramente, temos mostrado a Roma como nossa situação atual é difícil nas dioceses, e Roma continua trabalhando nisso. Aqui ou ali, esta dificuldade será real, mas desde quando a vida é sem dificuldades? O mais provável é que também tenhamos o problema oposto, ou seja, que não sejamos capazes de responder aos pedidos que virão de bispos amigos. Penso em algum bispo que poderia nos pedir que nos encarregássemos da formação dos futuros sacerdotes de sua diocese.
De maneira alguma nossas relações seriam as de uma congregação religiosa com um bispo, mas antes as de um bispo com outro bispo, assim como ocorre com os ucranianos ou os armênios da diáspora. E se, então, um problema não pôde ser resolvido, ele irá a Roma, e então haveria uma intervenção romana para resolver o problema.
Diga-se de passagem, o que se informou através da internet a respeito de meus comentários sobre este tema na Áustria, no mês passado, é completamente falso.
DICI: Se houver um reconhecimento canônico, o que acontecerá com as capelas amigas da Fraternidade independentes das dioceses? Os bispos da Fraternidade continuarão a administrar a confirmação, a fornecer os Santos Óleos?
Dom Fellay: Se trabalharem conosco, não haverá problema: será igual agora. Se não, tudo dependerá do que estas capelas entendem por independência.
DICI: Haverá alguma diferença em suas relações com as comunidades Ecclesia Dei?
Dom Fellay: A primeira diferença é que eles se verão obrigados a deixar de nos tratar como cismáticos. Sobre um desenvolvimento futuro, é claro que alguns se aproximarão de nós, dado que já nos aprovam discretamente; outros não. O tempo nos dirá como se desempenhará a Tradição nesta nova situação. Temos grandes expectativas para o apostolado tradicional, assim como algumas pessoas importantes em Roma e o próprio Papa. Temos grandes esperanças de que a Tradição se desenvolva com a nossa chegada.
DICI: Ainda se houver um reconhecimento canônico, o senhor dará a oportunidade aos cardeais da Cúria, aos bispos, de visitar nossas capelas, celebrar Missa, administrar confirmações, talvez até conferir as ordenações nos seminários?
Dom Fellay: Os bispos favoráveis à Tradição, os cardeais conservadores vão se aproximar. Há todo um desenvolvimento a prever, sem conhecer os detalhes específicos. E sem dúvida também haverá dificuldades, que é bastante normal. Não há dúvida de que virão nos visitar, mas para trabalhar de forma mais precisa, como a celebração da Missa ou as ordenações, isso dependerá das circunstâncias. Assim como queremos que a Tradição cresça, esperamos que a Tradição progrida entre os bispos e cardeais. Um dia tudo será harmoniosamente tradicional, mas quando tempo será necessário? Só Deus sabe.
DICI: Na espera da decisão de Roma, quais são as suas disposições internas? Quais o senhor desejaria aos padres e fiéis apegados à Tradição?
Dom Fellay: Quando em 1988, Dom Lefebvre anunciou que consagraria quatro bispos, alguns o animaram a fazê-lo e outros trataram de dissuadí-lo. Porém, nosso fundador manteve a paz, porque ele não tinha em vista senão a vontade de Deus e o bem da Igreja. Hoje em dia, devemos ter as mesmas disposições interiores. Como seu santo patrono, a Fraternidade São Pio X deseja “restaurar todas as coisas em Cristo”, alguns dizem que não é a hora, outros, pelo contrário, que é o momento adequado. De minha parte, só sei uma coisa: sempre é o momento para fazer a vontade de Deus e sabemos que Ele nos faz conhecê-la no momento oportuno, sempre e quando nos mostramos receptivos às suas inspirações. Por isso, pedi aos sacerdotes renovar a consagração da Fraternidade São Pio X ao Sagrado Coração de Jesus, em sua festa, 15 de junho próximo, e prepará-la com uma novena, durante a qual se recitarão as ladainhas do Sagrado Coração em todas as nossas casas. Todos podem se unir pedindo a graça de se converter em instrumentos dóceis da restauração de todas as coisas em Cristo. (DICI N º 256, de DICI 08/06/12).

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Tesouro de exemplos

O Castigo não se fez esperar
Em 1931, na festa de Corpus Christi, o bispo de Nantes (França), por causa do mau tempo, suspendeu a procissão do SS. Sacramento. No dia seguinte os jornais socialistas e maçônicos de Nantes zombavam da decisão do prelado. “Que faz o vosso Deus? (escrevia um dêles em tom de desprêzo). Nós nos rimos dêle. Para o próximo domingo, 7 de junho, organizamos uma excursão a Saint-Nazaire pelo vapor ‘Saint Philibert’. Vereis como tudo correrá bem, apesar de que todos os excursionistas perderão a missa para tomar o cruzeiro”.
Chegou o domingo 7 de junho. Eram 600 os passageiros que bem cedo embarcaram no vapor. O “Saint Philibert” desceu bem o Loire, chegou a Saint-Nazaire e depois saiu do estuário e entrou no Atlântico para um breve giro ao largo. De repente, formou-se um denso nevoeiro; não se via nem se ouvia nada a dez metros de distância. Não demorou muito a catástrofe: um choque tremendo com um poderoso transatlântico, que partia pelo meio o pequeno vapor francês. Após dois minutos de gritos de terror, um silêncio de morte. O “Saint Philibert” submergia no oceano para sempre. 499 excursionistas desapareceram nas ondas; quatro enlouqueceram ; os outros foram salvos com dificuldade por outro vapor; o capitão, desesperado, deixou-se afundar com seu navio. Assim respondia Deus à provocação dos míseros homenzinhos da seita.
* * *
Queria pô-las como flores
Em 1873 um homem de Wisembach, povoado dos Voges, amontoava imundícies num depósito. Aos que lhe perguntavam para que serviria aquilo, respondia:
- Este lixo eu o porei como flôres nas ruas por onde há de passara procissão de Corpo de Deus. Três dias depois foi atacado de apoplexia, morrendo sem recobrar os sentidos e sendo enterrado no próprio dia de Corpus Christi.
* * *
Bravos cruzadinhos
Um missionário do longínquo Oriente, vendo um jovenzinho muito recolhido e devoto diante do altar do Santíssimo, perguntou:
- José, que faz ai tanto tempo e que é que diz a Jesus?
- Nada, Padre, pois não sei ler nos livros. Somente exponho minha alma ao Sol.
* * *
Aos seus mais pequenos Cruzadinhos, perguntou um tal Vigário:
- Quantas vêzes se deve comungar?
- Muitas vêzes, Padre.
- Bem; e quem sabe me dizer por quê?
- Eu, Padre, eu sei. Jesus tomou o pão para mostrar que o devemos comer todos os dias; porque, se tivesse tomado a sobremesa, diríamos que só se devia comungar nos dias de festa.
* * *
Um menino distribui a Comunhão
Na guerra de 1914, que durou quatro anos, os exércitos italiano e alemão pelejavam perto da povoação de Torcegno, no vale de Brenta. À meia-noite, entraram os alemães para ocupar a igreja e a tôrre e levaram consigo prisioneiros os sacerdotes que havia, sem dar-lhes tempo de retirar o Santíssimo da igreja.
De manhã, antes da aurora, o povo recebeu ordem de evacuar o povoado, pois ia dar-se ali a batalha. Eram os habitantes cristãos fervorosos que amavam muito suas roças, suas casas e mais ainda sua igreja. Mas não havia remédio; era preciso fügir.
Salvemos ao menos o Santíssimo, disseram todos; mas como, se não havia padres? Lembraram-se de escolher o menino mais inocente e angélico para abrir o sacrário e dar a comunhão a todos os presentes, consumindo-se assim tôdas as hóstias. Ao sair o sol, todo o povo estava na igreja, as velas acesas, no altar e o menino revestido de alvas veites. Sobe o mesmo com grande reverência os degraus do altar,  estende o corporal, abre a portinha, toma o cibório douraclo e, tendo todos rezado o “Eu pecador”, desce até à grade e vai dando as hóstias até esvaziar o cibório.
Purificou logo o vaso sagrado com todo cuidado, juntou as mãos e desceu os degraus do altar como um anjo. Levando Jesus no coração, todo o povo se apressou a fugir para os montes. Corriam lágrimas dos olhos de muitos, é verdade, mas a alma estava confortada com o manjar divino.
Ao pequeno “diácono” enviou o Santo Padre Bento XV sua bênção e suas felicitações.
* * *
A força para o Sacrifício
Em 1901, começou na França o fechamento de todos os conventos e a expulsão dos religiosos. Foi nesse ano que se deu, em Reims, o câso  seguinte contado pelo Cardeal Langenieux, arcebispo daquela cidade.
Havia em Peims, entre outros, um hospital que abrigava somente os doentes atacados de doenças contagiosas, que não encontravam alhures nenhum enfermeiro que quisesse cuidar dêles. Em tais hospitais somente as Irmãs de caridade costumam tratar dos doentes e era essa a razão por que ainda não haviam expulsado as religiosas daquela casa.
Um dia, porém, chegou ao hospital um grupo de conselheiros municipais (vereadores), dizendo à Superiora que precisavam visitar tôdas as salas e quartos do estabelecimento, porque tinham de enviar um relatório ao Govêrno. A Superiora conduziu atenciosamente aquêles senhores à primeira sala, em que se achavam doentes cujos rostos estavam devorados pelo cancro.
Os conselheiros fizeram uma visita apressada, deixando perceber em suas fisionomias quanto lhes repugnava demorar-se ali. Passaram logo à segunda sala; mas ai encontraram doentes atacados de doenças piores, vendo-se obrigados a puxar logo seus lenços, pois não podiam suportar o mau cheiro. A passos rápidos percorreram as outras salas e, ao deixarem o hospital, aquêles homens estavam pálidos e visivelmente comovidos. Um dêles, ao despedir-se, perguntou à Irmã que os acompanhara:
- Quantos anos faz que a Sra. trabalha aqui?
- Senhor, já faz quarenta anos.
- Quarenta anos ! exclamou outro cheio de pasmo. De onde hauris tanta coragem?
- Da santa comunhão que recebo diariamente, respondeu a Superiora E eu lhes digo, senhores, que no dia em que o Santíssimo Sacramento cessar de estar aqui, ninguém mais terá fôrça de ficar nesta casa.
* * *
O menino que foi enforcado três vezes
Estamos na Palestina, pâtria de Jesus, onde se disse a primeira Missa e os Apóstolos fizeram sua primeira comunhão… E que é hoje a Palestina? Terra de desolação, de maometanos, cismáticos, judeus e poucos católicos.
Um menino cismático de oito anos começou a sentir-se atraído à religião dos católicos, a seus tantos e festas que lhe contavam seus companheiros. Um dia quis ir ver. Com muito segrêdo, por temor dos pais, assistiu à missa numa capela. Ficou encantado. Depois da missa continuou ali com as crianças do catecismo. Terminada a cerimônia, o Padre, que não o conhecia, aproximou-se dele para saudá-lo carinhosamente.
O coração estava ganho, e o menino, às escondidas, continuou a ouvir a missa todos os domingos. Um dia, porém, o pai o descobriu e perguntou-lhe:
- Você estêve com os malditos católicos?
- Sim, papai.
- Eu não lho proibira?
- Sim, senhor.
- Jura-me que não voltarâ lâ?
- Não posso, pois em meu coração sou católico.
- Então você não jura?
- Não, senhor.
- Enforcá-lo-ei…
- O senhor pode enforcar-me.
Passou o bârbaro uma corda a uma viga do teto e o laço ao pescoço do filho e puxou-o para cima. Quando os pézinhos do menino deixaram  de mover-se, o pai o desceu, soltou o laço e, vendo que ainda estava vivo, disse:
- Agora você me promete de não ir ter com aquêles malditos…
- Não, papai, não posso.
Segunda e terceira vez repetiu o pai o cruel suplício, mas não conseguiu mudar o propósito do menino. Disfarçando, então, a sua cólera, tentou o bárbaro pai outros meios.
Tomando em seus braços o corpo extenuado do pobrezinho, disse:
- Mas, meu filho, você não me ama?
- Amo-o, papai.
- Como é, pois, que não quer me obedecer?
- É que eu amo a minha alma mais do que a meu pai.
O menino, pouco a pouco, recobrou as fôrças e logo se fêz batizar, tornando-se católico. Seu pai e sua mãe morreram de tifo no ano seguinte e não muito depois teve o pequenino mártir a morte de um santo.
* * *
Vinham nadando
Conta um missionário que, quando chegava a alguma ilha da Oceânia, para anunciar a sua presença levantava um mastro bem grande. Os negros acudiam de tôda a parte e vinham até de muito longe. Um domingo, pela manhã, viu chegar uma turma de negros que vinham nadando de outra ilha, para terem o consôlo de ouvir a santa Missa.
* * *
Domingos Sávio ajuda à Missa
Êste angélico jovem, aos cinco anos de idade, já sabia ajudar à missa e fazia-o com grandes demonstraçõe de amor a Jesus. Como era muito pequeno, o pâdre mesmo tinha de mudar o missal. Mas era tão grande o seu desejo de servir ao altar, que muitas vêzes chegava à igreja quando esta ainda estava fechada,e ali permanecia esperando e rezando. Numa fria manhã de janeiro de 1847, ali o encontraram tiritando de frio, e coberto de neve que caía copiosamente.
Do livro Tesouro de exemplos – Padre Francisco Alves, C. SS.R. Editora Vozes Volume I Edição II 1958.

terça-feira, 5 de junho de 2012


MILÃO – Um casal de psicoterapeutas brasileiros dirigiu a Bento XVI a pergunta mais delicada para a Igreja no sábado à noite, quando representantes de alguns dos 153 países que participaram do VII Encontro Mundial das Familias, em Milão, se reuniram com o papa na Festa dos Testemunhos, um dos pontos altos da programação de três dias.
Os brasileiros, identificados apenas pelo sobrenome Araújo, que trabalham na assistência a divorciados, pediram a orientação de Bento XVI para enfrentar o desafio de atrair para a vida cristã os casais que, vivendo em segunda união, não podem receber a eucaristia (comunhão) nem a absolvição pela penitência (confissão). Como não admite o divórcio, a Igreja exige que os recasados se separem para participar dos sacramentos.
“Este problema é um dos grandes sofrimentos da Igreja de hoje e não temos receitas simples”, respondeu Bento XVI, acrescentando que “é muito importante a prevenção, isto é, aprofundar-se, desde o início do namoro, numa decisão profunda e madura”. O papa disse ainda que as paróquias e outras comunidades católicas “devem fazer o possível para que (as pessoas divorciadas) se sintam amadas, aceitas, e que não estão fora, apesar de não poderem receber a absolvição nem a eucaristia”.
Bento XVI insistiu na orientação atual da Igreja, ao afirmar em seguida que, embora “quem participa da Eucaristia entra em comunhão com o Corpo de Cristo, também sem a recepção do sacramento pode estar espiritualmente unidos a Cristo”. Pela interpretação das palavras do papa, a Igreja não está disposta a fazer nenhuma concessão para que os recasados participem plenamente da comunidade.
Um casal de noivos de Madagascar levantou a questão da indissolubilidade do matrimônio, ao manifestar sua preocupação em assumir um compromisso “para sempre” no altar. Bento XVI disse que “o amor garante, por si próprio, o ‘sempre’ no casamento”, mas advertiu que, mesmo sendo belo,” o sentimento do amor deve ser purificado e seguir o caminho do discernimento”.
Neste domingo, o papa voltou a se referir à acolhida aos divorciados e recasados, durante a homilia na missa de encerramento do VII Encontro Mundial das Famílias. Segundo a Rádio Vaticano, mais de um milhão de pessoas participaram da cerimônia. Bento XVI anunciou que o próximo encontro será na cidade de Filadélfia, nos Estados Unidos, em 2015.