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domingo, 29 de janeiro de 2012

O carismatismo: negação dos sacramentos e caricatura dos dons do Espírito Santo

Dom Lefebvre
Se fala muito em nossos dias, na Igreja, do pentecostalismo e dos carismáticos. Há, de fato, numerosos católicos que hoje se esforçam em receber a graça do Espírito Santo por uma nova via que, em definitivo, nos vem do protestantismo. Pois o pentecostalismo nasceu no protestantismo e se difundiu na Igreja, onde se transformou em movimento carismático. Nos vemos obrigados a constatar que estas manifestações se multiplicam cada vez mais, e isto com a autorização das autoridades eclesiásticas.
Com motivo da reunião do Katholikentag, em Munique, em novembro de 1984, todos os cardeais e bispos alemães estavam reunidos com oitenta mil de seus fiéis. Todo o mundo pôde ser testemunha desses fatos estranhos que ocorreram, especialmente antes da recepção do sacramento da Eucaristia. Alguém pode, em verdade, perguntar-se se estas eram inspiradas pelo verdadeiro Espírito de Deus, ou por outro espírito.
Pouco depois, na mesma época, em Graz (Áustria), realizaram-se fenômenos carismáticos na presença do bispo, quem explicou que, desde agora, estas estavam introduzidas na Igreja, como um meio de atrair os jovens aos templos que se esvaziavam. Talvez, anotou, este seria um caminho para fazer reviver a vida cristã na juventude.
Ao mesmo tempo, em Paray-le-Monial (França), realizam-se freqüentemente fatos idênticos, revestidos também de certos aspectos tradicionais. Lá, em particular, se vê jovens que passam a noite em adoração diante do Santíssimo Sacramento, recitam o rosário e dão testemunho de um espírito de oração. Logo se dá ali um aspecto curioso e estranho que mistura, ao mesmo tempo, a tradição e expressões mais bem estranhas que habituais na Igreja.
O que devemos pensar a respeito? Devemos crer, por acaso, que foi aberta uma nova via por ocasião do Concílio Vaticano II e alguns anos antes, para receber o Espírito Santo? Parece que estes fenômenos não seriam de todo conformes com a Tradição da Igreja. Quem nos dá o Espírito Santo? Quem é o Espírito?

De onde vem o Espírito?

O Espírito é Deus. Spiritus est Deus, diz São João. “Deus é Espírito”. Deus quer que se lhe reze e se lhe adore em espírito e em verdade. Por conseguinte, nosso amor ao Espírito Santo deve manifestar-se muito mais por um estado de ordem espiritual que por manifestações sensíveis, exteriores. Nosso Senhor Jesus Cristo mesmo é quem anuncia aos Apóstolos, no Evangelho, que receberão o Espírito Santo, que lhes enviará o Espírito do Pai, o Espírito de verdade, de caridade. Mittam eum ad vos. “Vos lho enviarei”. Este Espírito vem, pois, de Nosso Senhor Jesus Cristo e do Pai. Dizemos no Credo: Credo in Spiritum Sanctum, qui ex Patre Filioque procedit. “Que procede do Pai e do Filho”. É esta a Fé Católica: cremos que o Espírito Santo vem do Pai e do Filho, e que Nosso Senhor Jesus Cristo veio precisamente à terra para entregar-nos sua vida espiritual, sua vida divina.

Discurso do Papa à Congregação para a Doutrina da Fé - Uma profunda crise de fé, o Vaticano II e o diálogo ecumênico.





Audiência dos participantes da Sessão Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé
Sala Clemantina, Palácio Apostólico Vaticano
Sexta-feira, 27 de janeiro de 2012


Senhores Cardeais,
venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
queridos irmãos e irmãs!
Para mim é sempre motivo de alegria poder encontrar-vos em ocasião da Sessão Plenária e expressar-vos o meu apreço pelo serviço que desenvolvem para a Igreja e especialmente para o Sucessor de Pedro no seu ministério de confirmar os irmãos na fé (cfr Lc 22, 32). Agradeço o Cardeal William Levada por sua cordial saudação, onde recordou alguns importantes empenhos cumpridos pelo Dicastério nestes últimos anos.

Estou particularmente grato à Congregação que, em colaboração com o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, prepara o Ano da fé, vendo neste um momento propício para propor novamente a todos o dom da fé em Cristo ressuscitado, o luminoso ensinamento do Concílio Vaticano II e a preciosa síntese doutrinal oferecida pelo Catecismo da Igreja Católica.

Como sabemos, em muitas partes da terra, a fé corre o perigo de se apagar como uma chama que não encontra mais alimento. Estamos diante de uma profunda crise de fé, uma perda do sentido religioso que constitui o mais importante dever da Igreja de hoje. O renovamento da fé deve, portanto, ser a prioridade no empenho da Igreja inteira para os nossos dias. 

Espero que o Ano da fé possa contribuir, com a colaboração cordial de todos os componentes do Povo de Deus, para colocar Deus novamente presente neste mundo e para abrir aos homens o acesso à fé, à confiança de si mesmo naquele Deus que nos amou até o fim
 (cfr Jo 13, 1), em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado.

O tema da unidade dos cristãos é extremamente ligado a este dever. Gostaria, portanto, de destacar alguns aspectos doutrinais relacionados ao caminho ecumênico da Igreja, que foi objeto de uma profunda reflexão nesta Plenária, em coincidência com a conclusão da anual Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos. De fato, o impulso ao trabalho ecumênico deve partir deste “ecumenismo espiritual”, desta “alma de todo movimento ecumênico” (Unitatis redintegratio, 8), que se encontra no espírito de oração para que “todos sejam uma coisa só” (Jo 17,21).

A coerência do empenho ecumênico com o ensinamento do Concílio Vaticano II e com toda a Tradição foi um dos âmbitos no qual a Congregação, em colaboração com o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, sempre prestou atenção. Hoje podemos constar não poucos bons frutos arrecadados pelos diálogos ecumênicos, mas devemos também reconhecer que o risco de um falso irenismo [atitude de compreensão e caridade, adotada entre os cristãos de diferentes credos] e de umindiferentismo, totalmente contrário ao espírito do Concílio Vaticano II, algo que exige nossa vigilância.
Tal indiferentismo é causado pela opinião sempre mais difusa que a verdade não seria acessível ao homem; seria, portanto, necessário limitar-se a encontrar regras para uma prática capaz de melhorar o mundo. Assim, a fé seria constituída de um moralismo sem fundamento profundo. O centro do verdadeiro ecumenismo é, em vez, a fé na qual o homem encontra a verdade que se revela na Palavra de Deus.
Sem a fé, todos os movimentos ecumênicos seriam reduzidos a uma forma de “contrato social”, que adere a um interesse comum.
A lógica do Concílio Vaticano II é completamente diferente: a busca sincera da plena unidade de todos os cristãos é um dinamismo animado pela Palavra de Deus.
O problema crucial, que marca de modo transversal os diálogos ecumênicos, é a questão da estrutura da revelação – a relação entra a Sagrada Escritura, tradição viva na Santa Igreja, e o ministério dos sucessores dos Apóstolos como testemunhas da verdadeira fé.
É fundamental o discernimento entra a Tradição e tradições. Um importante passo para tal discernimento foi tomado na preparação e implementação de medidas para os grupos de fiéis provenientes do Anglicanismo, que desejam entrar em plena comunhão com a Igreja, conservando as próprias tradições espirituais, litúrgicas e pastorais, que estão em conformidade com a fé católica (cfr Const. Anglicanorum coetibus, art. III). Existe, de fato, uma riqueza espiritual nas diversas Denominações cristãs, que expressam uma única fé e dom a se compartilhar.
Hoje, então, uma das questões fundamentais é constituída pela problemática dos métodos adotados nos vários diálogos ecumênicos.
Também esses devem refletir a prioridade da féConhecer a verdade é o direito do interlocutor de cada verdadeiro diálogo. É a mesma exigência da caridade para com o irmão. Neste sentido, ocorre afrontar com coragem também as questões controversas, sempre num espírito de fraternidade e respeito recíproco.
É importante ainda oferecer uma interpretação correta daquela “ordem ou ‘hierarquia’ na verdade da doutrina católica” encontrada no Decreto Unitatis redintegratio (n. 11), que não significa de modo algum reduzir o depósito da fé, mas trazer para fora a estrutura interna. Têm também grande relevância os documentos de estudo, produtos dos vários diálogos ecumênicos. Tais textos não podem ser ignorados, porque constituem um fruto importante, embora temporário, da reflexão comum amadurecida pelos anos.
Contudo, eles são reconhecidos pelo seu verdadeiro significado como contribuições oferecidas às autoridades competentes da Igreja, que é chamada a julgá-los de modo definitivo. Atribuir a estes textos um peso relevante ou quase conclusivo das questões espinhosas dos diálogos, sem uma avaliação adequada por parte das Autoridades eclesiais, em última análise, não ajudaria no caminho verso a plena unidade na fé.
Uma última questão que gostaria finalmente mencionar é a problemática moral, que constitui um novo desafio para o caminho ecumênico. Nos diálogos não podemos ignorar as grandes questões morais que certam a vida humana, a família, a sexualidade, a bioética, a justiça e a paz.
Seria importante falar sobre estes temas com uma só voz, elaboradas com fundamento na Escritura e na vida da tradição da Igreja. Esta tradição nos ajuda a decifrar a linguagem do Criador em Sua criação. Defendendo os valores fundamentais da grande tradição da Igreja, defendemos o homem, defendemos o criado.
Ao concluir estas reflexões, espero uma estreita e fraterna colaboração da Congregação com os componentes do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, a fim de promover de forma eficaz o restabelecimento da plena unidade entre todos os cristãos. A divisão entre estes, de fato, “não só se opõe abertamente a vontade de Cristo”, mas é também obstáculo ao mundo e dano a mais santa das causas: a pregação do Evangelho a todas as criaturas” (Decr. Unitatis redintegratio, 1).

A unidade é, portanto, não somente fruto da fé, mas um meio e quase um pressuposto para anunciar a fé de modo mais credível àqueles que não conhecem ainda o Salvador. Jesus pediu: “Como tu, Pai, és em mim e eu em ti, sejam também eles em nós uma coisa só, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17, 21).
Renovando minha gratidão pelos vossos serviços, vos asseguro a minha constante proximidade espiritual e concedo de coração a todos a Benção Apostólica. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A Missa de Lutero

Conferência de Dom Marcel Lefebvre.

Dom Lefebvre
Esta noite, falarei da Missa de Lutero e da Missa do novo rito. Por que essa comparação entre a Nova Missa e a Missa de Lutero? Porque a história o diz; a história objetiva não é criação minha. (Sua Excia. mostra então um livro sobre Lutero, publicado em 1911, “Do Luteranismo Ao Protestantismo” de Léon Cristiani). Ele fala sobre a reforma litúrgica de Lutero. Trata-se de um livro escrito em um tempo, em que o autor nem conhecia nossa crise, nem o novo rito; portanto não foi escrito com segundas intenções.
Síntese dos princípios fundamentais da Missa
Primeiramente desejo fazer uma síntese dos princípios fundamentais da Missa, para trazer à nossa memória a beleza, a profunda grandeza espiritual de nossa Missa, o lugar que nossa Missa ocupa na Santa Igreja. Que coisa mais bela Nosso Senhor legou à humanidade, que coisa mais preciosa, mais santa concedeu à Sua Santa Igreja, à Igreja sua Esposa, no Calvário, quando morria na Cruz? Foi o Sacrifício de si mesmo.
O Sacrifício de si mesmo. Sua própria Pessoa, que continua seu Sacrifício. Ele o deu à Igreja, quando morreu na Cruz. A partir desse momento, esse Sacrifício estava destinado a continuar, a perseverar através dos séculos, como Ele o havia instituído, juntamente com o Sacerdócio.
Quando na Santa Ceia, Jesus instituiu o Sacerdócio, Ele o instituiu para o Sacrifício, o Sacrifício da Cruz, porque esse Sacrifício é a fonte de todos os méritos, de todas as graças, de todos os Sacramentos; a fonte de toda a riqueza da Igreja. Isso devemos recordar, ter sempre presente essa realidade, divina realidade.
Portanto, é o Sacrifício da Cruz que se renova sobre nossos altares, e o Sacerdócio está em relação com ele, em relação essencial com esse Sacrifício. Não se compreende o Sacerdócio sem o Sacrifício, porque o Sacerdócio foi feito para o Sacrifício. Poder-se-ia dizer também: é a Encarnação de Jesus Cristo, séculos a fora: “usque ad finem temporum” (1) , o Sacrifício da Missa será oferecido.
Se Jesus Cristo quis esse Sacrifício, quis também ser nele a vítima, uma vez que é o Sacrifício da Cruz que continua, Ele quis que a vítima fosse sempre a mesma, quis ser Ele próprio a vítima. Para ser a vítima, Ele tem que estar presente, verdadeiramente presente nos nossos altares. Se Ele não estiver presente, se não houver a Presença Real nos nossos altares, não haverá vítima, não haverá Sacerdócio. Tudo está ligado: Sacerdócio, Sacrifício, Vítima, Presença Real, portanto transubstanciação.
Aí está “o coração” do tesouro – o maior, o mais rico – que Nosso Senhor concedeu à Sua Esposa, a Igreja e a toda a humanidade. Assim podemos compreender que, quando Lutero quis transformar, mudar esses princípios, começou por combater o Sacerdócio; como o fazem os modernistas. Pois Lutero bem sabia que se o Sacerdócio desaparecesse, não mais haveria Sacrifício, não mais haveria Vítima, não haveria mais nada na Igreja, não mais haveria a fonte das graças.
Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio?
Como procedeu Lutero para dizer que não haveria mais Sacerdócio? Dizendo: “Não existe diferença entre padres e leigos. O Sacerdócio é universal”. Tais eram as idéias que ele propagava. Ele dizia que há três muros de defesa cercando a Igreja. O primeiro muro é essa diferença entre padres e leigos. (Sua Excia. Então lê): “A descoberta de que o Papa, os bispos, os padres, os religiosos compõem o Estado Eclesiástico, ao passo que os príncipes, os senhores, os artesãos, os camponeses formam o estado secular, é pura invenção, uma mentira”. Essa diferença entre padres e leigos é então uma invenção, uma mentira. Eis o que diz Lutero: “Na realidade, todos os cristãos pertencem ao estado eclesiástico”. Não há diferença, a não ser a diferença de funções, de serviço. Todos têm o Sacerdócio a partir do Batismo; têm-no em razão do caráter batismal, todos os cristãos são padres e os padres não têm um caráter especial, não há um sacramento especial para os padres, mas seu caráter sacerdotal lhes vem do caráter do Batismo. Assim também se explica esta laicização dos padres; eles não querem mais ter uma veste particular, não querem mais se distinguir dos fiéis, porque todos são padres; e são os fiéis que devem escolher os padres, eleger os seus padres.
Tais foram os princípios de Lutero, que prossegue: “Se um Papa ou um Bispo confere a unção, faz tonsuras, ordena, consagra ou dá uma veste diferente aos leigos ou aos padres, está criando enganadores”. Todos são consagrados padres, a partir do Batismo. Os progressistas do nosso tempo não descobriram novidades.
Há um novo livro sobre os Sacramentos, aparecido em janeiro deste ano em Paris, sob a autoridade do Arcebispo, o Cardeal Marty. Saiu há pouco. Seus autores descobriram oito sacramentos, não mais sete, porque o oitavo sacramento é a profissão religiosa. Eles dizem claramente, nesse livro, que todos os fiéis são padres e que o caráter sacerdotal vem do caráter do Batismo. Os autores, por certo, devem ter lido Lutero, transformado para eles em Padre da Igreja.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pela fé


Começo de Ano é tempo de bons propósitos. Olha-se para trás, e percebem-se salientes os defeitos e más ações, avolumadas no decurso do ano anterior. Sobretudo os maus hábitos, adquiridos ou consolidados.

Sob o ponto de vista da Fé – o mais importante, porque nos relaciona com Deus e condiciona nosso destino eterno – o ano findo registrou um profundo abalo: – Dogmas, fixados já em definições conciliares, foram simplesmente afastados, ou melhor, negados, na orientação oficial, dada aos fiéis. – “Fora da Igreja não há salvação”, afirmou o IV Concílio de Latrão, o de Florença e vários Papas; – “O Espírito Santo serve-se também de outras crenças para encaminhar as almas ao Céu” – ensina, em sentido contrário, o Concílio Vaticano II. – E o grande mestre, como tal considerado na Igreja instalada, é o Vaticano II. Não se enganaria quem disse que, na igreja nova, com o Vaticano II começou ou recomeçou a Igreja de Cristo.

Em tais condições, que antídoto proporcionar aos fiéis contra a heresia continuamente destilada pelo concílio joaneo-pauliano? – É preciso verificar qual a alavanca de que se servem os fautores do Vaticano II, para incessantemente manter presente, atuando sobre os fiéis o espírito novo do Concílio. – Conhecida a alavanca, opõe-se-lhe energia neutralizante.

Ora, a alavanca do Concílio é o “Novus Ordo Missae” de Bugnini e Paulo VI. A base, com efeito, dessa nova Missa solapa a estrutura da própria Igreja. Pois, desconhece a distinção ontológica entre clérigos e leigos. Na nova Missa, todos, padres e leigos, são igualmente sacerdotes, operando conjuntamente o Sacrifício da Missa. É, aliás para isso que se congregam. Leia-se o nº 7 da “Institutio” que precede e explica o Novus Ordo, e se encontra no Missal de Paulo VI. Por isso mesmo, a missa de Paulo VI serve também para os Protestantes. Não é uma missa especificamente católica.

E chegamos ao antídoto contra a heresia que deturpa e elimina a Fé Católica – manter estrita fidelidade à Missa chamada de S. Pio V, e fazer dela a característica do verdadeiro católico.



Dom Antônio de Castro Mayer
(Cf. Monitor Campista – 13.01.85)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Anti-Igreja do Vaticano II

Dom Antônio de Castro Mayer
17/08/1986

Quando foram distribuídos, entre os Padres Conciliares, os primeiros esquemas do 2º Concílio do Vaticano interpelaram-me: – V. acha que, para isso, seria preciso reunir um Concílio? A razão da pergunta é que os esquemas não apresentavam nenhuma novidade.

De fato, a realidade do 2º Concílio do Vaticano não era o que aparecia. E sim, seus subterrâneos.
Sob uma aparência tradicional, assegurada pela presença dos Srs. Cardeais Ottaviani, Bacci, Ruffini, Braum e outros, operava o Cardeal Bea, porta-voz das Bnai-Brith judias e demais maçônicos, convencidos de que era o momento de ultimar a obra de destruição da Igreja Católica, implodindo-a sobre si mesma.
Estruturou-se, assim, um Concílio “sui-generis”: sem discussão: os oradores sucediam-se ininterruptamente, uns aos outros, vazando na assembléia o de que nutriam seus espíritos. Não havia nexo entre as várias intervenções. Quem as quisesse contestar, deveria inscrever-se na lista dos postulantes da palavra, e aguardar a sua vez, que poderia ocorrer vários dias depois.
De maneira que, no 2º Concílio do Vaticano, quem fazia tudo eram as comissões. E com tal sobranceria que, logo de início, a mesa de presidência jogou fora os esquemas propostos pela comissão preparatória, autorizada pela Santa Sé, ou seja, pelo Papa, a quem, aliás, como chefe supremo da Igreja e Vigário de Jesus Cristo, assiste o direito de propor a matéria a ser tratada nos concílios e a maneira como fazê-lo.
Eis que o 2º Concílio do Vaticano constitui-se numa anti-Igreja.
Dogma fundamental da Igreja Católica é sua necessidade para a salvação. Não têm os homens liberdade de escolher sua religião, sua igreja, conforme seu agrado, ou persuasão. Sob pena de condenação eterna, devem ingressar na Igreja Católica Romana. – Ora, o Vaticano II, neste ponto, fixa, como doutrina inconteste, precisamente o contrário: todo homem tem liberdade visceral de aderir à Religião de sua preferência.
Posta esta antítese, neste ponto básico, necessariamente, sobre ele vão se construir edifícios antitéticos. – Por isso, dizemos que o Vaticano II firmou-se como a anti-Igreja. Conseqüência: quem adere ao Vaticano II, sem restrição, só por esse fato, desliga-se da verdadeira Igreja de Cristo. Ninguém pode, ao mesmo tempo ser católico e subscrever tudo quanto estabeleceu o Concílio Vaticano II. Diríamos que a melhor maneira de abandonar a Igreja de Cristo, Católica Apostólica Romana, é aceitar, sem reservas o que ensinou e propôs o Concílio Vaticano II. Ele é a anti-Igreja.

Jornal Heri et Hodie (de Campos), nº 33 – setembro de 1986.
Cfr. Monitor Campista, 17/08/86)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Pela pena de morte


"Quem poupa o lobo, mata as ovelhas"
(Vitor Hugo)

     São muitas as pessoas, infelizmente, que são contra a pena de morte. Essas pessoas fazem muitas objeções à pena capital. Rebateremos as mais comuns.
1ª objeção: Não pode haver pena de morte porque podem acontecer erros e acabar-se matando inocentes.
Resposta: Segundo esse argumento, tudo o que contém algum risco de erro é ilegítimo. Se esse argumento procedesse, deveriam ser proibidos o avião e o automóvel, porque acontecem vários acidentes por ano e muitos inocentes morrem. "Abusus non tollit usum" (o abuso não tolhe o uso), é uma máxima do Direito absolutamente verdadeira. Caso contrário, a vida em sociedade seria impossível.
2ª objeção: Um erro não justifica outro.
Resposta: a objeção normalmente parte do pressuposto de que a pena de morte é um erro, sem se dar ao trabalho de provar isso.
Se assim fosse, a mãe não poderia bater no filho quando ele faz alguma travessura, já que bater é errado e não poderia ser usado para corrigir outro erro.
Dever-se-iam extinguir as cadeias, porque os erros dos criminosos não justificariam outro erro que é o cárcere forçado.
E assim por diante...
3a. objeção: Só Deus pode tirar a vida. E Ele ordenou: "Não matarás".
Resposta: Então, a Bíblia estaria errada quando diz: "O que ferir um homem querendo matá-lo, seja punido de morte" (Êxodo 21,12). "O que ferir o seu Pai ou sua Mãe seja punido de morte" (Êxodo 21,15). "Aquele que tiver roubado um homem, e o tiver vendido, convencido do crime, morra de morte"(Êxodo 21,16).
Na verdade, a ordem divina "Não matarás" significa que ninguém pode matar sem motivo, sem razão. Não impede o assassinato em legítima defesa. Ora, a pena de morte nada mais é do que a legítima defesa da sociedade contra o criminoso.
Se a objeção procedesse, não haveria previsão da pena de morte na Bíblia.
4ª objeção: A Igreja Católica é contra a pena de morte
Resposta: A Igreja sempre ensinou que a pena de morte é legítima. Ela não poderia ir contra o que a Bíblia ensina de modo tão explícito.
Vários santos defenderam a pena capital, entre eles: São Jerônimo, o doutor máximo das Escrituras, Santo Agostinho, São Pio V, São Pio X e São Tomás, o maior doutor da Igreja.
Quem se opõe à pena de morte não é a Igreja, mas alguns padres e bispos.
São Paulo ensinou que a pena de morte é legítima: "Paulo, porém, disse: Estou diante do Tribunal de César, é lá que devo ser julgado; nenhum mal fiz aos Judeus, como tu sabes muito bem. E, se lhes fiz algum mal ou coisa digna de morte, não recuso morrer..." (Atos XXV, 10-11).
São Paulo afirma que existem ações que são dignas de morte. É, portanto, favorável à pena capital. Diz ainda, em outra passagem: "Os quais, tendo conhecido a justiça de Deus, não compreenderam que os que fazem tais coisas são dignos de morte; e não somente quem as faz, mas também quem aprova aqueles que as fazem" (Rom I, 32).
5ª objeção: Não se pode punir os criminosos com a morte. Ninguém tem esse direito.
Resposta: É necessário punir os faltosos. A justiça manda "dar a cada um o que é seu".
Quando um ladrão rouba uma pessoa, cometeu uma injustiça e a vítima, além da sociedade, é "credora" desse ladrão. Então, para se fazer justiça, o ladrão deve pagar. Restituir o que subtraiu à vítima e pagar uma pena.
Por isso sempre se diz: "O criminoso está em dívida com a sociedade", "Já paguei minha dívida com a sociedade".
Os maus devem ser punidos, é o que ensina São Tomás na "Suma contra os gentios", em que cita algumas passagens da Bíblia:
Diz o Apóstolo: "Não sabeis que um pouco de fermento corrompe a massa?" (ICor 5, 6e13), acrescentando logo após: "Afastai o mal de vós". Referindo-se à autoridade terrestre, diz que: "Não sem razão leva a espada, é ministro de Deus, punidor irado de quem faz o mal" (Rm 13,4). Diz S. Pedro: "Sujeitai-vos a toda criatura humana por causa de Deus; quer seja rei, como soberano; quer sejam governantes, como enviados para castigar os maus, também para premiar os bons" (1Pd 2,13-14).
De acordo com essas passagens, a punição é necessária, e os governantes têm o direito de punir.
A pena deve ser proporcional ao agravo. Desse modo, para uma infração leve devemos ter uma pena leve, para uma infração média, uma pena média, e para uma infração grave, por exemplo, um assassinato, devemos ter uma pena forte, que é justamente a pena de morte.
Por isso a Bíblia elenca vários crimes que são dignos de morte.
6ª objeção: A pena de morte não resolverá nada. Os EUA são a prova disso.
Resposta: Resolve sim. Primeiro porque um apenado com a pena capital não cometerá crimes novamente. Segundo, porque nos países onde ela existiu, no decorrer da história, sempre houve baixa criminalidade.
Por exemplo, na França. Em Paris, entre 1749 e 1789 - quarenta anos - aconteceram apenas DOIS assassinatos.
E hoje em dia, nos países que aplicam a pena máxima - como é o caso dos países árabes e de Cingapura - há baixíssima criminalidade.
Nos EUA, se não houvesse pena de morte haveria ainda mais crimes. Além disso, o sistema americano é imperfeito; há poucas condenações e os processos são demorados demais.
Em New York a criminalidade está despencando e um dos motivos é a aprovação da pena de morte.
7ª objeção: É uma falta de caridade com o criminoso. É contra os princípios cristãos.
Resposta: Pelo contrário. Como ensina São Tomás, o ódio perfeito pertence à caridade. A pena de morte na verdade é caridosa. Quando aplicada a um criminoso irrecuperável, ela impede que ele cometa mais crimes, ou seja, impede que cometa mais pecados.
Como dizia São Domingos Sávio, "é preferível morrer a cometer um pecado mortal".
Além disso, a pena capital, é uma excelente oportunidade para que o criminoso se arrependa de seus crimes e ofereça sua vida como pagamento de seus pecados.
O criminoso, no corredor da morte, tem uma rara oportunidade de salvar-se, bastando arrepender-se e confessar a um sacerdote antes da execução.
8a. objeção: Não se pode abreviar a vida porque existe a possibilidade de uma graça futura ou de um arrependimento futuro.
Resposta: Ora, para Deus não existe tempo. Se tal pessoa deveria receber uma graça no futuro, Deus "anteciparia" tal graça.
Por outro lado, a Justiça não pode trabalhar com meras "hipóteses" ou "suposições".
Na argumentação de São Tomás, o perigo de um criminoso para a sociedade é maior do que a chance dele se converter, e por isso deve ser eliminado.
9a. objeção: Jesus Cristo foi contra a pena de morte
Resposta: Jesus Cristo é Deus. Deus é o autor mediato da Bíblia. Se a pena de morte fosse errada, não haveria previsão na Sagrada Escritura.
No Novo Testamento há várias passagens pró pena de morte: S. João XIX, 10-11: "Então disse-lhe Pilatos: Não me falas? Não sabes que tenho poder para te crucificar, e que tenho poder para te soltar? Respondeu Jesus: Tu não terias poder algum sobre mim se te não fosse dado do alto...". Ou seja, Deus deu a Pilatos, autoridade constituída, o direito de aplicar a pena de morte. É claro que com Nosso Senhor, Pilatos usou mal esse direito. E no Apocalipse: Apoc XIII, 10: "Quem matar à espada importa que seja morto à espada".
10ª objeção: As pessoas que defendem a pena de morte assim o fazem porque não serão elas as executadas. Se um filho dessas mesmas pessoas estivesse no corredor da morte seriam as primeiras a protestarem contra a pena capital.
Resposta: Se esse raciocínio fosse verdadeiro, teríamos de acabar com todas as penas, porque quem comete um crime não quer ser condenado, mesmo que tenha defendido a pena para esse crime. O argumento equivale a dizer: "As pessoas que defendem a pena de cárcere forçado assim o fazem porque não serão elas as prisioneiras. Se um filho dessas mesmas pessoas estivesse preso seriam as primeiras a protestarem contra a prisão".
11a. objeção: Quem é contra o aborto, não pode ser a favor da pena de morte.
Resposta: Raciocínio torto esse, totalmente "non sense". Somos a favor de punir bandidos, e não inocentes que nunca fizeram nada. Esse raciocínio é o equivalente a dizer: "quem é contra prender uma criança durante 10 anos numa cela, não pode ser a favor de prender um criminoso por 10 anos numa cadeia".
A tese contrária é verdadeira "Quem é a favor do aborto não pode ser contra a pena de morte". Se alguém defende o assassinato de uma criança inocente, não poderá ser contra a execução de um bandido.
Infelizmente, hoje em dia, há várias pessoas que são favoráveis ao assassinato intra-uterino (aborto) e são contra a pena de morte. É o cúmulo do "non sense".
12ª. objeção: Se no passado ela poderia estar certa, a pena de morte hoje em dia não tem mais cabimento. A tendência do mundo é de acabar com ela, não podemos impedir a evolução das coisas. A pena de morte não é compatível com um mundo civilizado.
Resposta: De acordo com esse raciocínio as tendências do mundo moderno são todas excelentes e inatacáveis.
Entretanto, hoje a tendência é de que os partidos neo-nazistas cresçam. Então, esses partidos estariam certos? A tendência é o deficit público aumentar. Então, o deficit é bom? A tendência é o trânsito aumentar, a criminalidade aumentar.
"Tendências" não significam nada, podem ser ruins ou boas.
Não existe "evolução" para a verdade.
É justamente hoje em dia que precisamos mais da pena de morte, porque há mais crimes.
Civilizado é um mundo com baixa criminalidade e não um mundo em que se mata por nada.
13ª. objeção: As penas devem ser educativas, para recuperar o criminoso, e não para vingar.
Resposta: Toda a pena é vindicativa. A recuperação do criminoso está em segundo plano.
O primeiro dever do Estado é proteger a sociedade, e não recuperar o indivíduo. O todo vale mais que a parte.
Ademais, a pena de morte é extremamente educativa para todo mundo.
14ª objeção: A maioria das pessoas é contra a pena de morte.
Resposta: Não é verdade. A maioria das pessoas é a favor da pena capital.
Nos EUA em torno de 75%, no Brasil deve ser também. Bastaria um plebiscito para confirmar esse dado.
15ª. objeção: Não se pode punir os criminosos com a pena capital porque a culpa é da sociedade. A pobreza é que causa a criminalidade. São traumas psicológicos que causam o crime.
Resposta: Então, a Igreja estaria errada quando ensina que existe o livre arbítrio e, por causa dele, podemos escolher entre o bem e o mal.
Os crimes existem em função da maldade humana que escolhe o mal em vez do bem.
Se a sociedade fosse a culpada, não poderia haver Direito, não poderia haver nenhum tipo de repressão. O próprio Direito Civil seria inútil, pois, todo o inadimplente poderia alegar que não pagou por culpa da sociedade, e o credor não poderia cobrá-lo.
O mesmo aconteceria com os "traumas psicológicos".
Dizer que a pobreza causa a criminalidade é dizer que todo pobre é ladrão. Ou seja, é uma frase preconceituosa.
Se fosse assim, a Índia, um dos países mais pobres do mundo, seria o mais violento. Entretanto, é um país com baixa criminalidade.
***
     A proibição da pena de morte não tem suporte lógico nenhum. Não existe argumentação eficiente contra a pena capital.
     O que explica as pessoas serem contra ela, além de uma visão totalmente falsa da caridade, é o sentimentalismo, no fundo materialista, representado por frases como estas: "não se pode punir", "devemos ter piedade do assassino", "coitado do bandido".
     Nenhum pastor, em sã consciência, trocaria um rebanho de ovelhas por um lobo. Ele não hesitaria em matar o lobo.
     O nosso triste mundo do século XX, porém, preserva o lobo e mata as ovelhas.
     O pior é que nós somos as ovelhas...

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Bíblia indica que devemos aceitar a Tradição Oral

Fonte: Veritatis

 

São Paulo recomenda e ordena a manutenção da Tradição Oral. Em1 Cor 11,2, por exemplo, lemos: “Eu vos felicito por vos lembrardesde mim em toda ocasião e conservardes as tradições tais como euvo-las transmiti” (4). São Paulo está claramente recomendando quemantenham a tradição oral, e deve ser notado em particular que elecongratula os fiéis por fazê-lo (Eu vos felicito...). Também é explícito notexto o fato de que a integridade desta Tradição oral apostólica eraclaramente mantida, da mesma forma como Nosso Senhor haviaprometido, sob o auxílio do Espírito Santo (cf. Jo 16,13).

Talvez o mais claro apoio bíblico para a Tradição oral seja 2 Ts 2,15, onde os cristãos são enfaticamente advertidos: “Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos, de viva voz ou por carta”. Esta passagem é significante porque: a) mostra uma tradição oral apostólica vivente, b) diz que os cristãos estarão firmemente fundamentados na fé se aderirem a estas tradições e c) claramente afirma que estas tradições eram tanto escritas como orais. A Bíblia distintamente mostra aqui que as tradições orais - autênticas e apostólicas em sua origem - deveriam ser seguidas como componente válido do Depósito da Fé, então por quais razões ou desculpas os protestantes a rejeitam? Com que autoridade podem rejeitar uma exortação clara do apóstolo Paulo?
Além do mais, devemos considerar o texto desta passagem. A palavra grega krateite, traduzida aqui como “guardar”, significa “estar firme”, “forte”, “prevalecer” (5). Esta linguagem é enfática, e demonstra a importância da manutenção destas tradições. Obviamente, devemos diferenciar o que seja Tradição (com T maiúsculo), que é parte da revelação divina, das tradições da Igreja (com t minúsculo) que, mesmo que sejam boas, desenvolveram-se tardiamente e não fazem parte do Depósito da Fé.
Um exemplo de algo que seja parte da Tradição seria o batismo infantil; um exemplo de tradições da Igreja seria o calendário das festas dos santos. Tudo que venha da Sagrada Tradição é de origem divina e são imutáveis, enquanto que as tradições da Igreja são cambiáveis pela Igreja. A Sagrada Tradição serve-nos como regra de fé por mostrar no quê a Igreja tem consistentemente crido através dos séculos e como ela sempre entendeu uma determinada parte Bíblica. Uma das principais formas pelo qual a Sagrada Tradição foi transmitida a nós está nas doutrinas dos textos litúrgicos antigos, o serviço divino da Igreja.

Todos já notaram que os protestantes acusam os católicos de promoverem doutrinas novas e anti-bíblicas baseadas na Tradição, por afirmarem que tal Tradição contém doutrinas que são estranhas à Bíblia. Entretanto, esta acusação é profundamente falsa. A Igreja Católica ensina que a Tradição Oral não contém nada que seja contrário à Tradição Escrita. Alguns pensadores católicos afirmam, inclusive, que não há nada na Tradição Oral que não seja encontrado na Bíblia, mesmo que implicitamente ou em formas seminais. Certamente as duas estão em perfeita harmonia e complementam uma à outra. Para algumas doutrinas, a Igreja faz uso da Tradição mais que pelas Escrituras para seu entendimento, mas mesmo estas doutrinas estão incluídas nas Sagradas Escrituras. Por exemplo, as doutrinas seguintes são preferencialmente baseadas na Sagrada Tradição: batismo infantil, o cânon das Escrituras, o domingo como Dia do Senhor, a virgindade perpétua de Maria e a assunção de Maria.

A Sagrada Tradição complementa nossa compreensão da Bíblia ao mesmo tempo que não constitui uma fonte extra-bíblica de revelação, com doutrinas novas ou estranhas a ela. Muito pelo contrário: a Sagrada Tradição age como a memória viva da Igreja, relembrando-a constantemente o que criam os cristãos antigos, como entendiam e interpretavam as passagens bíblicas (6). De certa forma, é a Sagrada Tradição que diz ao leitor da Bíblia: Você está lendo um livro muito importante, que contém a revelação de Deus aos homens. Agora deixe-me explicá-lo como ela sempre foi entendida e praticada pelos cristãos desde o início dos tempos.

Notas
(4) A palavra traduzida como ordenança é também traduzida como ensinamento ou tradição, por exemplo, a NIV traz ensinamento com uma nota dizendo: "ou tradição".
(5) Vine, op. cit., p. 564.
(6) Um exemplo desta forma interpretativa envolve Ap 12. Os Padres da Igreja entenderam a mulher vestida de sol como referência à Assunção da Virgem Maria. Alguém afirmar que esta doutrina não existia até 1950 (o ano em que o Papa Pio XII definiu-o como dogma de fé) corresponde a uma grande ignorância de história eclesial. Essencialmente, a crença surgiu desde o início, mas não fora formalmente definida até o século 20. Deve-se saber que a Igreja geralmente não costuma definir uma doutrina formalmente a não ser que esta seja questionada por correntes heréticas perigosas. Tais ocasiões requerem uma necessidade oficial de definir parâmetros sobre a doutrina em questão.
Fragmentos da obra "Scripture Alone? 21 Reasons to reject Sola Scriptura" de Joel Peters, traduzido e editado em português pelo Apostolado Veritatis Splendor na forma de ebook com o título "Somente a Escritura?". Tradução de Rondinelly Ribeiro Rosa. Pgs 15-17.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Suíça: Um Bispo toma uma posição contra a Educação Sexual na Escola e Relativiza os Direitos Humanos.

Por DICI | Tradução: Fratres in Unum.com – Em entrevista para o NZZ am Sonntag, em 4 de dezembro de 2011, o bispo Vitus Huonder, de Chur, relembrou que a educação sexual é de responsabilidade dos pais e não do Estado, pois a sexualidade “está intrinsecamente relacionada ao comportamento religioso e constitui uma dimensão central da identidade humana.”

“Quando o uso de preservativos é recomendado na frente de crianças”, declarou o prelado suíço de Chur, “é uma ideologia que está sendo veiculada, ou seja, uma intromissão do Estado na liberdade religiosa e na predominância do papel dos pais na educação”. E nesse caso, como crentes, eles deveriam ser capazes de “se subtraírem dos abusos estatais,” continuou o bispo Huonder, que exige um “direito de resistência” para os pais.

O bispo de Chur também se posicionou contra o direito de adoção por pares do mesmo sexo, o qual foi aprovado em novembro pela Comissão do Conselho Estadual de Assuntos Jurídicos. Cada criança tem o direito de ter um pai e a uma mãe, um direito que não é respeitado na estrutura de uma parceria homossexual: “É uma violação dos direitos da criança.” As melhores condições para o desenvolvimento da identidade sexual são garantidas quando a criança pode crescer “em um clima de dualidade entre uma mãe e um pai.” “A Igreja não pode estabelecer os seus direitos nas posições que agradem a todos. Ela precisa transmitir a verdade da fé – quer ela agrade ou não as pessoas,” afirma o bispo Huonder.

Em uma carta pastoral intitulada “Uma Educação Sexual Prescrita pelo Estado”, publicada em 5 de dezembro, o bispo de Chur falou aos seus fiéis com relação ao Dia dos Direitos Humanos. Ele observou que a Igreja “reconhece a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948,” mas submete as suas afirmações e reivindicações “à verdade da Revelação de Deus.” O direito à transmissão da própria fé da pessoa “nunca deve ser retirado dos pais,” ele escreve.

O bispo denuncia a ideologia de igualdade sem discriminação quanto à orientação sexual, juntamente com a ideologia de Gênero. Essa última, contrária à natureza humana, destrói a ordem da criação ao insinuar que o homem somente é resultado da cultura e que ele constrói a si próprio independentemente da natureza humana e das leis universais inerentes a sua condição. E relembra: “O direito divino sempre tem precedência sobre os direitos humanos.”

Crítica Aguda às Declarações do Bispo Huonder 

Após a publicação desta carta pastoral, várias críticas foram ouvidas contra o argumento de que a Igreja “reconhece” (somente) a Declaração dos Direitos Humanos.
“As comunidades religiosas nunca deveriam relativizar a Declaração Universal dos Direitos Humanos,” declarou a Federação Evangélica Suíça em um comunicado de imprensa em 6 de dezembro. Os direitos escritos nesta convenção são válidos para todos, da mesma maneira para todos, e independente de religião. Geoff Tunnicliffe, secretário geral da Aliança Mundial Evangélica, compartilha esta opinião. Daniel Graf, porta-voz da Anistia Internacional, afirmou no Tages Anzeiger que é “irritante” ver, 60 anos depois da assinatura da Declaração, um representante importante da Igreja que não a apóia completamente e que revela isso no Dia dos Direitos Humanos.

Walter Kälin, diretor do Centro de Competência Suíço para Direitos Humanos e professor de direito internacional na Universidade de Berna, considera a posição do bispo “preocupante”: “vendo o perigo universal que paira sobre os direitos humanos, eu teria esperado que um líder da Igreja Suíça os apoiasse e não que ele iria questioná-los.” Para Adam Loretan, especialista em Direito Canônico, não basta “reconhecer os direitos humanos; eles devem ser integrados no sistema e pensamento da pessoa.”
O bispo Felix Gmür, de Bâle, afirmou ser a favor da educação sexual na escola, em uma entrevista com o jornal alemão sonntags Zeitung, em 11 de dezembro de 2011. “A aula de educação sexual é uma parte da missão da escola pública, e não deve ser renunciada. Essas aulas ajudam a apoiar e completar o papel dos pais,” declarou o bispo Gmür. “Tudo o que é importante é que essas aulas levem em consideração todas as opiniões diferentes.”

Assim, o bispo de Bâle opõe-se à idéia de dispensar os alunos da educação sexual, conforme exige Dom Huonder. “Quando eles expõem aspectos diferentes, biológicos, psicológicos, emocional e social, não vejo razão para retirar as crianças dessas aulas,” afirmou em oposição ao seu confrade no episcopado. (fontes: apic/nzz bistumchurch/SonntagsZeitung – DICI#247, 23 de dezembro de 2011)

A Imodéstia dos Bailes

Por São Franciso de Sales

As danças e os bailes são coisas de si inofensivas; mas os costumes de nossos dias tão afeitos estão ao mal, por diversas circunstâncias, que a alma corre grandes perigos nestes divertimentos. Dança-se à noite e nas trevas, que as melhores iluminações não conseguem dissipar de todo, e quão fácil é que debaixo do manto da escuridão se façam tantas coisas perigosas num divertimento como este, que é tão propício ao mal. Fica-se aí até alta hora da noite, perdendo-se a manhã seguinte e conseguintemente o serviço de Deus.


Numa palavra, é uma loucura fazer da noite dia e do dia noite, e trocar os exercícios de piedade por vão prazeres. Todo baile está cheio de vaidade e emulação e a vaidade é uma disposição muito favorável às paixões desregradas e aos amores perigosos e desonestos, que são as conseqüências ordinárias dessas reuniões. 

Referindo-me aos bailes, Filotéia, digo-te o mesmo que os médicos dizem dos cogumelos, afirmando que os melhores não prestam para nada. Se tens que comer cogumelos, vejas que estejam bem preparados e não comas muito, porque, por melhor preparados que estejam, tornam-se, todavia, um verdadeiro veneno, se são ingeridos em grande quantidade.

Se em alguma ocasião, não podendo te escusar, fores coagida a ir ao baile, presta ao menos atenção que a dança seja honesta e regrada em todas as circunstâncias pela boa intenção, pela modéstia, pela dignidade e decência, e dança o menos possível, para que teu coração não se apegue a essas coisas.

Os cogumelos, segundo Plínio, como são porosos e esponjosos, se impregnam facilmente de tudo quanto lhes está ao redor, até mesmo do veneno de uma serpente que por perto deles se arraste. Do mesmo modo, essas reuniões à noite arrastam para o seu meio ordinariamente todos os vícios e pecados que vão alastrando pela cidade ― os ciúmes, as pedanterias, as brigas, os amores loucos; e, como o aparato, a afluência e a liberdade, que reinam nestas festas, agitam a imaginação, excitam os sentidos e abrem o coração a toda sorte de prazeres, caso a serpente murmure aos ouvidos uma palavra indecente ou aduladora, caso se seja surpreendido por algum olhar dum basilisco, os corações estarão inteiramente abertos e predispostos a receber o veneno.

Ó Filotéia, esses divertimentos ridículos são de ordinário perigosos. Dissipam o espírito de devoção, enfraquecem as forças da vontade, esfriam os ardores da caridade e suscitam na alma milhares de más disposições. Por estas razões nunca se deve freqüentá-los, e, no caso de necessidade, só com grandes precauções.

Diz-se que, depois de comer cogumelos, é preciso beber um gole do melhor vinho existente; e eu digo que, depois de assistir a estas reuniões, convém muito refletir sobre certas verdades santas e compenetrantes para precaver e dissipar as tentadoras impressões que o vão prazer possa ter deixado no espírito.

Eis aqui algumas que muito te aconselho:

1. Naquelas mesmas horas que passaste no baile, muitas almas se queimavam no inferno por pecados cometidos na dança ou por suas más conseqüências.

2. Muitos religiosos e pessoas piedosas nessa mesma hora estavam diante de Deus, cantando os seus louvores e contemplando a sua bondade; na verdade, o seu tempo foi muito mais empregado que o teu!...

3. Enquanto dançavas, muitas pessoas se debatiam em cruel agonia, milhares de homens e mulheres sofriam dores atrocíssimas em suas casas ou nos hospitais. Ah! eles não tiveram um instante de repouso e tu não tiveste a menor compaixão deles; não pensas tu agora que um dia hás de gemer como eles, enquanto outros dançarão?!...

4. Nosso Senhor, a SS. Virgem, os santos e os anjos te estavam vendo no baile. Ah! quanto os desgostaste nessas horas, estando o teu coração todo ocupado com um divertimento tão fútil e tão ridículo!

5. Ah! enquanto lá estavas, o tempo se foi passando e a morte se foi aproximando de ti; considera que ela te chame para a terrível passagem do tempo para a eternidade e para uma eternidade de gozos ou de sofrimentos.

Eis aí as considerações que te queria sugerir; Deus te inspirará outras mais fortes e salutares, se tiveres santo temor a Ele.

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São Franciso de Sales. Filotéia ou Introdução à Vida Devota. Petrópolis: Editora Vozes, 2004, p. 319-323.




segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Marxismo Cultural e Revolução Cultural - Pe Paulo Ricardo


Hoje passamos esse vídeo na reunião que fala sobre o marxismo e a revolução cultural, onde o Pe Paulo Ricardo aponta esses como as raízes da teologia da libertação, a qual já domina os pensamentos na Igreja. E desmascara o domínio velado que a teologia da libertação tem hoje.

Homilia do Papa Bento XVI na Festa do Batismo do Senhor

Queridos irmãos e irmãs
É sempre uma alegria celebrar esta Santa Missa com os Batismo das crianças. Vos saúdo com afeto, caros pais, padrinhos e madrinhas, e todos vocês familiares e amigos! Viestes – a dissestes em alta voz – para que os vossos bebês recebam o dom da graça de Deus, a semente de vida eterna. Vós pais quisestes isso. Pensastes no Batismo antes mesmo que o vosso filho ou a vossa filha viesse à luz. A vossa responsabilidade de pais cristãos vos fez pensar logo no Sacramento que marca o ingresso na vida divina, na Comunidade da Igreja. Podemos dizer que esta foi a vossa primeira escolha educativa como testemunhas da fé em relação aos vossos filhos: a escolha é fundamental.
O objetivo dos pais, ajudados pelo padrinho e pela madrinha é o de educar o filho ou a filha. Educar é muito trabalhoso, às vezes é árduo para as nossas capacidades humanas, sempre limitadas. Mas educar se torna uma maravilhosa missão se a cumprimos em colaboração com Deus, que é o primeiro e verdadeiro educador de todos os homens.
Na primeiro leitura que escutamos tirada do livro do profeta Isaías, Deus se volta para o seu povo exatamente como educador. Protege os israelitas para que estem não saciem a sede e fome em fontes erradas: “Por que gastais dinheiro com aquilo que não é pão, o vosso salário com aquilo que não sacia?” (Is 55,2). Deus quer dar-nos sobretudo Si mesmo e a sua Palavra: sabe que distanciando-nos dEle, nos encontraremos logo logo em dificuldade, como o filho pródigo da palavra, e sobretudo perderemos a nossa dignidade humana. E por isto, nos assegura que Ele é misericordia infinita, que os seus pensamentos e as suas vias não são como as nossas – por sorte nossa! - e que podemos sempre retornar a Ele, à casa do Pai. Nos assegura que se acolhermos a sua Palavra, a mesma trará frutos bons para nossa vida, como a chuva que irriga a terra (Is 55, 10-11).

sábado, 7 de janeiro de 2012

Cor Jesu Sacratissimum, Miserere nobis!


Ato de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus


Dulcíssimo Jesus, Redentor do gênero humano, lançai os vossos olhares sobre nós, humildemente prostrados diante de vosso altar. Nós somos e queremos ser vossos; e para que possamos viver mais intimamente unidos a Vós, cada um de nós neste dia se consagra espontaneamente ao vosso Sacratíssimo Coração.
Muitos nunca Vos conheceram; muitos desprezaram os vossos mandamentos e Vos renegaram. Benigníssimo Jesus tende piedade de uns e de outros e trazei-os todos ao vosso Sagrado Coração.
Senhor, sede o Rei não somente dos fiéis que nunca de Vós se afastaram, mas também dos filhos pródigos que Vos abandonaram; fazei que eles tornem, quanto antes, à casa paterna, para que não pereçam de miséria e de fome.
Sede o Rei dos que vivem iludidos no erro, ou separados de Vós pela discórdia; trazei-os ao porto da verdade e à unidade da fé, a fim de que em breve haja um só rebanho e um só pastor.
Sede o Rei de todos aqueles que estão sepultados nas trevas da idolatria e do islamismo, e não recuseis conduzi-los todos à luz e ao Reino de Deus.
Volvei, enfim, um olhar de misericórdia aos filhos do que foi outrora vosso povo escolhido; desça também sobre eles, num batismo de redenção e vida, aquele sangue que um dia sobre si invocaram.
Senhor, conservai incólume a vossa Igreja, e dai-lhe uma liberdade segura e sem peias; concedei ordem e paz a todos os povos; fazei que de um a outro pólo do mundo, ressoe uma só voz: Louvado seja o Coração divino, que nos trouxe a salvação! A Ele, honra e glória por todos os séculos dos séculos. Amém.

S.S. Pio XI, 11 de dezembro de 1925